Leite cru é saudável? Análise de médicos sobre notícias falsas

"Leite fresco ordenhado de uma cabana na montanha parece o protótipo de uma comida saudável." "Sem corantes ou conservantes, vem de um ambiente natural, onde o ar e a água são puros, e não passa por nenhum processo industrial." No entanto, "pode ser muito perigoso. A menos que você pelo menos o ferva antes de bebê-lo (uma operação que, no entanto, contrasta com o atributo 'cru' pelo qual é preferido)". O alerta vem dos médicos anti-fake news do portal 'Doutor, mas é verdade que...?', editado pela Fnomceo (Federação Nacional de Associações Médicas). A última notícia que trouxe o assunto de volta aos holofotes foi a morte, há alguns dias, de Zoe Anne Guaiti, uma mãe que esperava um bebê, no sexto mês de gravidez. Febre alta, dor abdominal e depois choque séptico. A hipótese que circula é que o leite cru pode estar implicado. Mas outros casos vieram à tona nos últimos meses, alguns envolvendo crianças que acabaram no hospital em condições muito graves. E médicos e especialistas como o virologista Roberto Burioni alertaram repetidamente sobre os perigos de beber leite cru. "Significa correr um risco sério e evitável", reiterou Burioni novamente nas redes sociais. "Melhor não fazer, com a saúde não se brinca".
"O risco não diz respeito apenas ao leite, mas também ao queijo, aos laticínios, ao iogurte, ao sorvete e a qualquer outro produto feito com essa matéria-prima não pasteurizada - lemos no destaque - A pasteurização é, na verdade, o processo pelo qual, por meio da exposição ao calor por um tempo adequado, todas as bactérias presentes no alimento podem ser mortas". O leite recém-colhido de vacas, ovelhas ou cabras "pode estar contaminado com germes que infectam o animal ou estão presentes em sua pele ou no úbere, germes que vêm de suas fezes ou são transportados por insetos ou roedores, estão presentes no balde, nas mãos ou roupas do ordenhador ou, em qualquer caso, no estábulo. Quanto mais higiênico for o ambiente em que esse procedimento ocorre, menores serão os riscos, que, no entanto, não desaparecem completamente. Para torná-lo seguro, antes de ser colocado no mercado, o leite é então submetido a um processo em instalações industriais rigorosamente controladas que pode ser a pasteurização tradicional, em alta temperatura em um curto período de tempo ('leite fresco') ou mais longo ('longa vida', UHT), possivelmente após ser microfiltrado, de modo a preservar as propriedades organolépticas do leite fresco".
O produto que chega ao consumidor sem passar por esses procedimentos é chamado de leite cru. "Sua venda é permitida na Europa desde 2004, mas apenas sob certas condições. Em primeiro lugar, como já foi dito, que o consumidor saiba que deve fervê-lo: por isso, desde 2008, é obrigatório na Itália que essa recomendação seja claramente escrita nos rótulos e nas máquinas de venda automática que, em algumas partes da Itália, permitem que os produtores cheguem diretamente aos consumidores", informam os médicos antifraudes. Essas máquinas também devem garantir refrigeração adequada e constante, e o leite nelas contido deve ser substituído diariamente e, uma vez adquirido, deve ser consumido no mesmo dia.
Mas a pergunta que muitas pessoas fazem é: leite cru é bom para você? Segundo seus defensores – analisam os especialistas –, esse alimento seria mais rico em vitaminas, enzimas e micronutrientes que podem ser alterados pelo processo de pasteurização. As bactérias vivas que ele contém, além disso, aumentariam a variedade de espécies na microbiota intestinal, fortalecendo o sistema imunológico e, assim, mantendo eczemas e alergias sob controle. Alguns também afirmam que ele pode facilitar a digestão e evitar a intolerância à lactose. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) de Atlanta, no entanto, não há evidências científicas que sustentem uma vantagem nutricional do leite cru em relação ao leite pasteurizado, embora seus riscos sejam bem documentados.
Por exemplo, "entre as bactérias contidas no leite cru, além daquelas benéficas à saúde, às vezes encontramos algumas muito perigosas, como Campylobacter, Salmonella, Listeria monocytogenes e subtipos específicos de Escherichia coli, capazes de produzir toxinas. Em muitos casos, esses germes podem causar diarreia, vômitos e cólicas abdominais ou, como acontece na brucelose, dor de cabeça, dores ósseas e musculares, mas principalmente febre. Se a doença causada por várias espécies de brucela não for diagnosticada e tratada com antibióticos, o aumento da temperatura pode durar semanas e meses, com uma tendência ondulatória típica, caracterizada por períodos de mal-estar mais acentuado, alternados com fases de remissão".
Condições ainda mais graves ligadas ao consumo de leite cru "são formas de paralisia transitória (síndrome de Guillain-Barré) e síndrome hemolítico-urêmica, uma trombose generalizada grave que afeta especialmente crianças pequenas, causando insuficiência renal, às vezes acidente vascular cerebral e danos a outros órgãos, a ponto de colocar a vida em risco. Por esse motivo - concluem os médicos - o leite cru deve ser evitado, especialmente em menores de 5 anos, maiores de 65 anos, em pessoas imunossuprimidas e em gestantes, todas as categorias que podem ter defesas insuficientes para repelir o ataque dos germes presentes na bebida 'natural'".
Adnkronos International (AKI)