The Shakespeare Ladies Club de Christine e Jonathan Hainsworth: As mulheres que tornaram Shakespeare grande

William Shakespeare teve que esperar 124 anos até ser considerado digno de uma estátua no Canto dos Poetas, o nicho da Abadia de Westminster dedicado às maiores estrelas literárias da Inglaterra. Na época de sua morte, em 1616, a reputação do dramaturgo estava em queda livre.

Embora o colega escritor Ben Jonson tenha bajulado seu amigo mais velho com o apelido de "Cisne de Avon", a verdade nua e crua era que, para a maioria dos espectadores de teatro, Shakespeare era uma relíquia empoeirada. Nenhum jornal londrino havia mencionado a morte do dramaturgo aos 52 anos.

Tudo isso mudou em 1736, graças a quatro mulheres empreendedoras da classe alta que formaram o Shakespeare Ladies Club. O clube foi idealizado por Susanna, Condessa de Shaftesbury. Ela estava enojada com o fato de os teatros londrinos agora exibirem apenas versões mutiladas das peças de Shakespeare.

Essas mutilações eram resultado de um novo puritanismo cultural que insistia que as peças de Shakespeare eram obscenas e sangrentas demais para a alta sociedade. Susanna e três amigos literários odiavam que Macbeth tivesse se transformado em uma extravagância de canto e dança, enquanto Romeu e Julieta não era mais uma tragédia, já que os adolescentes apaixonados tomavam remédios para dormir em vez de veneno mortal.

Susanna – juntamente com Mary, Duquesa de Montagu, Elizabeth Boyd, uma escritora brilhante, e a feminista impetuosa Mary, Baronesa Walsingham – empreenderam uma campanha para que Shakespeare fosse devolvido à sua antiga glória. Especificamente, queriam que sua vivacidade e até mesmo sua vulgaridade fossem restauradas. Em particular, as damas estavam furiosas porque as mulheres fortes e complexas de Shakespeare haviam sido transformadas em bonecas bobas.

O Shakespeare Ladies Club existiu por apenas alguns anos e não deixou nenhum registro. Mesmo assim, os autores Christine e Jonathan Hainsworth fizeram um excelente trabalho ao encontrar evidências de seu trabalho pioneiro.

Eles encontraram cartazes que mencionam peças encenadas "A pedido de várias damas de qualidade". As damas solicitaram aos teatros que montassem peças que haviam desaparecido do repertório, incluindo Noite de Reis, O Conto de Inverno e Tudo Está Bem Quando Bem Acaba.

Graças a esses esforços, no final da década de 1730, cerca de um quarto das apresentações em Londres eram de peças de Shakespeare. Um jornal de destaque publicou uma carta-sátira de Shakespeare agradecendo ao Clube das Damas do além-túmulo por reviver "a memória do desamparado Shakespeare".

O maior triunfo das mulheres foi arrecadar fundos para uma estátua comemorativa de Shakespeare, que ficaria no Poets' Corner, ao lado de luminares literários como Geoffrey Chaucer e John Milton.

Eles organizaram duas apresentações beneficentes de Júlio César e Hamlet nos teatros Drury Lane e Covent Garden, respectivamente. No entanto, como não era legal para mulheres fazerem campanha abertamente, elas tiveram que contar com homens para financiar o trabalho em seu nome. A escolha de garoto-propaganda foi David Garrick, o principal ator e empresário teatral do país.

Garrick era um egoísta colossal que levou todo o crédito por ter instalado Shakespeare no Cantinho dos Poetas. No período vitoriano, essa elevação de William Shakespeare ao status de santo padroeiro secular da Grã-Bretanha – o que George Bernard Shaw espirituosamente apelidou de "Bardolatria" – era rotineiramente atribuída a Garrick.

Que gratificante saber que os Hainsworths fizeram lobby na Abadia de Westminster em nome das damas. O registro oficial agora afirma que foi graças a quatro mulheres corajosas que Shakespeare foi resgatado da lata de lixo cultural e restaurado à sua posição de direito no coração e na alma da cultura britânica.