A crise na Nueva EPS, que está sob intervenção desde 2024, deixou mais de 11 milhões de associados em suspense: clínicas e hospitais pararam de prestar serviços.

Desde 3 de abril de 2024, a Nueva EPS — a maior seguradora de saúde da Colômbia, com mais de 11 milhões de associados — está sob administração governamental, por meio da Superintendência Nacional de Saúde. Quase um ano e meio depois, sua situação está longe de melhorar: a entidade não entrega seus relatórios financeiros há dois anos, lidera o ranking nacional de reclamações de usuários e acumula milhões em dívidas que já afetam o funcionamento de hospitais e clínicas em diferentes regiões do país.
Os dados mais recentes revelam a dimensão do problema. Somente entre janeiro e julho de 2025, os usuários registraram 295.390 sinistros contra a Nueva EPS. Destes, 161.179 foram encerrados, mas o fato de a seguradora liderar a lista de processos de sinistros revela uma clara deterioração em sua capacidade de resposta. A Superintendência, em seus relatórios técnicos, também destaca que a entidade é uma das três com maior taxa de reabertura de sinistros, juntamente com a Compensar e a Emssanar.
A intervenção também não trouxe estabilidade. Durante esses meses, a EPS teve três intervenientes diferentes, uma sucessão de nomeações que os especialistas consideram um obstáculo a qualquer processo de recuperação. A nomeação mais recente ocorreu em 19 de agosto de 2025, quando a Superintendência de Saúde nomeou novos intervenientes na Nueva EPS, Coosalud e SOS. Mas a rotatividade constante, longe de ser tranquilizadora, levantou novas dúvidas sobre a capacidade de gestão e a direção da entidade.

Clínicas como Avianti, San Rafael e Primavera pararam de atender seus pacientes. Foto: Maurício Moreno / EL TIEMPO
A situação em hospitais e clínicas é ainda mais alarmante. O acúmulo de dívidas levou a decisões drásticas: suspensão de serviços, fechamento temporário de unidades de pronto-socorro e rescisão de contratos.
Somente em agosto deste ano, três operadoras de saúde anunciaram medidas devido às dívidas da seguradora: a Clínica Avidanti, em Manizales, fechou seus serviços aos usuários do Nueva EPS devido a dívidas superiores a 171 bilhões de pesos; a Clínica San Rafael, em Armenia, deixou de atender mais de meio milhão de associados em Quindío e Risaralda devido a uma dívida superior a 100 bilhões de pesos; e a Clínica Primavera, em Villavicencio, suspendeu seu pronto-socorro devido a uma dívida de mais de 22,945 bilhões de pesos.
Anteriormente, no final de junho, quatorze hospitais em Caldas alertaram para a possibilidade de fechar suas portas a pacientes devido a contas pendentes superiores a 48 bilhões de euros. Até mesmo a Clínica Universitária Bolivariana de Medellín decidiu rescindir seu contrato em março deste ano, visto que as obrigações da Nueva EPS com a instituição aumentaram de 19,589 bilhões para 43,683 bilhões de euros em menos de um ano.
A realidade é que a maior seguradora do país, que sofreu intervenção e está sob controle estatal, atravessa seu pior momento. Não só precisa responder a milhões de membros descontentes, como também enfrenta a crescente desconfiança de clínicas e hospitais, que veem seus portfólios crescerem cada vez mais e não veem soluções à vista em uma situação em que as próprias dívidas são incertas, as quais, segundo algumas partes interessadas, podem ultrapassar quatro e até cinco trilhões de pesos.
Uma crise ainda sem medida O ex-ministro da Saúde, Augusto Galán Sarmiento, afirma que a falta de informações claras sobre as finanças da Nueva EPS dificulta até mesmo a compreensão da magnitude da crise. "A primeira coisa a dizer é que a situação financeira da Nueva EPS não é clara no momento. Seus ativos exatos são desconhecidos (...) e podem ser estimados em algo que pode oscilar entre três e quatro trilhões de pesos negativos", explicou.
Soma-se a isso o problema da instabilidade da intervenção. Para Galán, "recuperar isso sem estabilidade administrativa, sem governança corporativa, sem uma cultura organizacional sólida (...) lança sérias dúvidas sobre o futuro e a possível recuperação deste Novo EPS". A rotatividade constante de intervenientes, sem uma estratégia sustentada, deixou claro que a intervenção, tal como foi concebida, não foi suficiente. "Essas oito ou nove entidades intervencionadas têm problemas semelhantes, e essas intervenções não foram úteis, não serviram a nenhum propósito (...) é o que está sendo demonstrado", alertou.
O acadêmico também alerta para o impacto sistêmico que um possível colapso poderia ter. “O risco de desaparecimento do maior EPS do país (...) cria dificuldades sistêmicas muito significativas. O sistema de saúde e o cumprimento dos princípios constitucionais de cobertura universal, solidariedade e equidade no acesso estariam seriamente em risco”, afirma.

Clínicas e hospitais fecharam seus serviços devido a dívidas multimilionárias com seguradoras. Foto: Prensa Nueva EPS
Por sua vez, Luis Jorge Hernández, médico sanitarista e professor da Universidade dos Andes, concorda que a instabilidade administrativa minou qualquer tentativa de recuperação. "Essa rotatividade constante de auditores gera instabilidade organizacional, corrói a cultura institucional e dificulta a implementação de estratégias de longo prazo", observou. Em sua opinião, a falta de clareza financeira é um obstáculo intransponível enquanto as contas não forem regularizadas. "Os indicadores financeiros da Nueva EPS mostram deterioração persistente, com patrimônio líquido negativo e demonstrações financeiras não certificadas para 2023 e 2024", enfatiza.
Mas o aspecto mais grave, acrescenta Hernández, é a crescente insatisfação dos usuários. “A entidade também enfrenta um aumento de 30% nas solicitações, reclamações e reivindicações em 2024 (358.316 até agora neste ano, em comparação com 277.033 em 2023), refletindo a insatisfação dos usuários e os problemas na prestação dos serviços”, explicou. Soma-se a isso uma dívida com instituições de saúde de cerca de 4,2 trilhões de pesos, dos quais 2,2 trilhões estão em atraso, segundo os dados disponíveis. “Isso indica uma grave crise de liquidez”, alerta.
Hernández enfatiza que, se medidas imediatas não forem tomadas, as consequências serão devastadoras. “Se a Nueva EPS não se estabilizar e sua carteira continuar a crescer, os riscos para o país são múltiplos e graves. Isso afetaria o atendimento de milhões de usuários, especialmente em serviços essenciais como atenção primária, hospitalização e tratamento de doenças crônicas”, enfatiza.

A Superintendência de Saúde realizou recentemente mudanças na supervisão de três EPSs. Foto: Superintendência de Saúde / Arquivo EL TIEMPO
Do setor hospitalar, a perspectiva é ainda mais dramática. Juan Carlos Giraldo, diretor da Associação Colombiana de Hospitais e Clínicas (ACHC), enfatiza que os números são insustentáveis e que, de fato, os cálculos da ACHC são ainda maiores do que os utilizados por outros setores. "É um EPS que sozinho já tem um valor de carteira, juntamente com nossos IPSs, que já ultrapassa 5 trilhões de pesos (...) com crescimento superior a 800 bilhões de pesos no primeiro semestre do ano e uma deterioração da inadimplência de 5,5 pontos percentuais", afirma.
Giraldo alerta que a situação não é mais um risco futuro, mas uma realidade palpável. “A questão da pasta não é só uma questão numérica (...) hoje não é mais algo passageiro ou um risco, mas sim eventos que já estão acontecendo, com fechamentos que nos prejudicam muito e causam problemas nas regiões”, afirma. E pede urgência: “O tempo da doença é muito diferente do tempo da política e da administração. Quem está doente não tem tempo para esperar que todas essas discussões aconteçam.”
Os diagnósticos dos três especialistas coincidem nos pontos principais: a Nueva EPS vive uma crise de liquidez que ameaça transbordar, a rotatividade de auditores agravou a instabilidade administrativa e a opacidade de seus números impede decisões baseadas em informações confiáveis.
Enquanto isso, clínicas e hospitais são forçados a fechar serviços ou suspender o atendimento aos pacientes, transferindo o ônus da crise diretamente para seus usuários. A combinação de falta de pagamento aos prestadores, insatisfação dos pacientes e opacidade nos relatórios financeiros levou a maior seguradora do país a um momento crítico. "Uma intervenção sem novos recursos significa apenas ganhar tempo adicional, mas não resolverá os problemas subjacentes", conclui Giraldo.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo