'Estamos preocupados que o direito fundamental à saúde dos colombianos seja afetado pela crise causada pelo governo': Advogado de Keralty

A intervenção da Sanitas EPS pela Superintendência Nacional de Saúde abriu uma disputa jurídica e política que agora coloca o governo contra o Keralty Group, seu principal acionista. O Tribunal Constitucional já decidiu a favor da empresa, mas o retorno da gestão da EPS ainda não foi finalizado, o que levou a empresa a solicitar ao Tribunal que execute sua própria decisão.
Do ponto de vista da Keralty, o ocorrido constitui uma clara violação da decisão constitucional. Segundo a empresa, a Superintendência de Saúde tem buscado atrasar a entrega do EPS por meio de recursos e solicitações que, por lei, não suspendem a ordem judicial. Essa situação, afirma a empresa, constitui conduta ilegal que viola a segurança jurídica.
O advogado de Keralty, Juan David Riveros, afirma que o conflito decorre de uma visão radicalmente diferente do sistema de saúde. Enquanto o governo insiste em transformá-lo por meio da reforma da saúde que não conseguiu aprovar, Keralty sustenta que o modelo atual, embora aperfeiçoável, produziu resultados e deve ser aprimorado. Essa diferença, explica ele, resultou em tratamento discriminatório da organização.

Juan David Riveros, advogado de Keralty. Foto: John Pérez
Em meio a esse conflito, o principal temor de Keralty é que os colombianos acabem sendo os mais afetados. A crise resultante da intervenção, sustenta Riveros, já está impactando a prestação de serviços de saúde e ameaça erodir um direito fundamental. "O próprio sistema se deteriorou gravemente, e isso se traduz em falta de prestação de serviços em tempo hábil", alerta o advogado.
Como está progredindo a recuperação da empresa? No mandado de segurança que obtivemos, o Tribunal declarou expressamente que manteria a competência para executar a decisão. Muito mais do que as 48 horas normalmente previstas em lei para o cumprimento das decisões já se passaram, e a Superintendência Nacional de Saúde, que é a entidade mandatada para tal, não as cumpriu. É por isso que solicitamos ao Tribunal que execute a sua decisão. Até o momento, o Tribunal não emitiu uma decisão, mas deverá fazê-lo nos próximos dias. O que esperamos é que seja muito contundente na forma como a decisão deve ser executada, o que, em nossa opinião, deveria ter sido implementado há muito tempo.
A Superintendência de Saúde nos informou que entrou com um recurso, portanto ainda não poderia entregar o EPS. Qual é a sua resposta? Isso não é verdade. Trata-se de mais um ato ilegal da Superintendência, pois o que fizeram foi solicitar esclarecimentos e apresentar um pedido de anulação da decisão. A lei expressamente estabelece que isso não interrompe o cumprimento da sentença, pois o que está sendo protegido aqui é um direito fundamental já reconhecido pelo Tribunal. Nem o pedido de esclarecimentos nem o pedido suspendem a decisão. O fato de o Governo ou a Superintendência terem uma visão diferente não a torna legal. Além disso, enviamos uma comunicação formal instando o cumprimento da decisão e, até o momento, não recebemos resposta.

Segundo o advogado, a intervenção da Sanitas teve graves consequências no atendimento aos pacientes. Foto: Mauricio Dueñas / EFE
A decisão do Tribunal é extremamente clara e reconhece comportamento flagrantemente ilegal desde o início da intervenção e, claro, durante toda a sua extensão. Temos visto com frequência entidades governamentais cumprirem decisões quando estas lhes são favoráveis e buscarem qualquer desculpa para não cumpri-las quando não o são. Este é um exemplo claro deste último caso. A Superintendência está recorrendo a desculpas e justificativas ilegais para evitar o cumprimento da decisão do Tribunal Constitucional. Portanto, a liderança do Grupo Keralty determinou o início de todas as ações legais contra indivíduos que se envolvam em comportamento ilegal, violando um direito fundamental já reconhecido pelo Tribunal.
Por que você acha que o governo demonstrou tanta animosidade em relação à Keralty e à EPS Sanitas? Compartilho a opinião de que houve tratamento discriminatório. Não tenho uma explicação comprovada, mas tenho uma hipótese: o governo nacional, desde o início de sua gestão, teve uma visão diferente do sistema de saúde. Reconhecemos os benefícios do sistema atual e sabemos que há aspectos que poderiam ser melhorados, mas não acreditamos que seja um sistema ruim. Por outro lado, o governo o vê como um sistema falido. Essa diferença é o ponto de partida da discordância e dos maus-tratos a que fomos submetidos. O mais grave é que isso deteriorou profundamente o sistema e se traduz na falta de prestação oportuna de serviços de saúde para a comunidade em geral, não apenas para os membros da EPS Sanitas. Recuperar essa situação a curto prazo será muito difícil. E o que mais nos preocupa é que o direito fundamental à saúde dos colombianos esteja sendo afetado por essa crise que o governo causou com processos de intervenção desastrosos.

Joseba Grajales, presidente do Grupo Keralty, e o advogado Juan David Riveros; e o presidente Petro. Foto: EL TIEMPO/ Arquivo Privado
Solicitamos o cumprimento da decisão em 1º de agosto, pois ela deveria ser executada naquela data. Existem procedimentos normais, respeitamos os prazos e os processos e continuaremos a fazê-lo. Não agiremos fora da lei ou dos canais institucionais. Acreditamos que o Tribunal Constitucional deve se pronunciar muito em breve sobre o nosso pedido de cumprimento e sobre os pedidos infundados da Superintendência. Acredito que essas decisões devem ocorrer dentro de alguns dias e, com base nisso, a decisão deve ser executada e a administração da EPS Sanitas deve retornar ao Grupo correspondente.
Como estão os processos judiciais que você moveu contra autoridades governamentais, incluindo o Presidente? Todos os processos estão em andamento. Nenhum foi arquivado. Como é normal, eles têm seus próprios procedimentos e cronogramas, mas até agora tudo está ocorrendo conforme o esperado. Aos poucos, as evidências da ilegalidade da intervenção de abril do ano passado foram se consolidando. Esses processos continuarão, e continuaremos a manter uma presença institucional em todas essas ações. Esperamos que, como ocorreu com a decisão do Tribunal Constitucional, as decisões nos deem razão, porque estamos convencidos de que estamos certos, não apenas legalmente, mas também em nossa visão de como o sistema de saúde deve ser aprimorado.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo