Universidades públicas: o que está por trás da crise financeira trilionária no ensino superior público

As universidades públicas do país enfrentam uma grave crise financeira há anos. Em um novo capítulo, a Controladoria Geral da União emitiu um novo alerta sobre a situação fiscal, orçamentária e previdenciária das principais instituições públicas de ensino superior: a Universidade Nacional, a Universidade de Antioquia, a Universidade do Valle e a Universidade Industrial de Santander.
Segundo o órgão regulador, a Universidade Nacional da Colômbia, a Universidade de Antioquia e a Universidade do Valle, em dezembro de 2024, tinham passivos previdenciários no valor de US$ 8,3 bilhões de pesos, sendo a UNAL o caso mais grave, com passivos acumulados de US$ 4,5 bilhões de pesos.
No entanto, a situação real de todo o setor é muito mais crítica do que a revelada pelo órgão de supervisão, já que ele analisou apenas o que acontece nas quatro principais universidades públicas: a Universidade Nacional, a Universidade de Antioquia, a Universidade do Valle e a Universidade Industrial de Santander. De fato, o Sistema Universitário Estatal (SUE) estima que o déficit estrutural acumulado pelas 34 universidades públicas do país nos últimos 30 anos ultrapassa US$ 17 bilhões de pesos.
Foi assim que Jairo Miguel Torres, presidente da SUE e da Associação Colombiana de Universidades (Ascún), explicou ao EL TIEMPO: “Estamos falando de 17 bilhões de pesos que as universidades deixaram de receber porque os aumentos orçamentários alocados pelo país aumentam ano após ano com o IPC (conforme estabelecido nos artigos 86 e 87 da Lei 100 de 1992), ou seja, com a inflação. No entanto, os custos operacionais, conforme avaliados pelo Índice de Custo do Ensino Superior (ICES) do Instituto Nacional de Estatística (DANE), são muito maiores.”
De acordo com a SUE, historicamente, os custos das universidades públicas aumentaram em média 5,2 pontos percentuais acima do IPC a cada ano e, em alguns casos, muito mais. Só para dar um exemplo, enquanto o IPC para 2024 foi de 5,2% (que é o requisito legal para o aumento da base orçamentária), o ICES mostrou uma variação anual de 18,32% para o semestre 2024-1 e 9,58% para o semestre 2024-2.
Torres explica que essa lacuna levou as universidades públicas, que em 1993 eram quase inteiramente financiadas por recursos governamentais, a agora lutarem para se manterem à tona: “Hoje, as entidades nacionais e territoriais fornecem 55,25% do orçamento para as universidades, enquanto as próprias instituições geram cerca de 44,75% com a venda de serviços. Essa é a realidade financeira das universidades. Se um novo modelo financeiro não for estabelecido, esse subfinanciamento tenderá a se agravar, e muitas universidades não terão recursos para se sustentar.”
Vale destacar que, após os acordos assinados em 2018 pela administração de Iván Duque, mais recursos foram alocados aos orçamentos das universidades desde aquele ano do que o exigido por lei. Isso também ocorre no governo de Gustavo Petro, que elevou o IPC em mais 11 pontos percentuais para 2025. Embora isso tenha ajudado a evitar que o déficit aumentasse ainda mais, é uma medida que depende da vontade do governo no poder (o acordo venceu em 2022) e, em alguns anos, ficou abaixo do percentual estabelecido pelo ICES, como foi o caso deste ano.

Foto do Campus Leste da UdeA : Diretoria de Comunicações da UdeA
Governo, universidades e especialistas concordam que o subfinanciamento das universidades públicas é uma realidade e que pode ser devido a problemas no cálculo dos aumentos na base orçamentária previstos nos artigos 86 e 87 da Lei 30.
Isso foi explicado por Francisco Vargas Bonilla, vice-reitor acadêmico da Universidade de Antioquia, que atualmente atravessa um período financeiro difícil devido a esse subfinanciamento: “Primeiramente, os artigos 86 e 87 da Lei 30 precisam ser atualizados. Esses recursos historicamente apresentam uma lacuna entre o crescimento dos custos das universidades públicas e a atualização dessa base orçamentária; o custo da chamada cesta básica no país tem sido bem superior ao valor do IPC estabelecido por lei.”
Vários especialistas consultados por este jornal concordam que esse cálculo não levou em conta vários fatores, como o fato de as instituições estarem vivenciando um crescimento exponencial no número de alunos, o que exige custos operacionais mais elevados. O sistema universitário público passou de 159.218 em 1993 para aproximadamente 744.821 em 2023 (últimos dados revelados pelo Sistema Nacional de Informações do Ensino Superior - SNIES).
Isso fez com que, segundo dados do Ministério da Educação, nos últimos 20 anos, enquanto a população atendida pelas IES públicas cresceu 169%, a base orçamentária cresceu apenas 62% em termos reais , demonstrando o caráter cumulativo e estrutural do subfinanciamento.
Mas também deixa de levar em conta que os salários dos servidores públicos também aumentam ano a ano mais do que o valor do IPC e que os professores universitários têm um sistema salarial diferenciado, regido pelo Decreto 1.279 de 2002 e calculado por pontos, que também aumentam acima da inflação. Esses pontos são concedidos por antiguidade, formação, produção acadêmica, entre outros. Isso significa que as despesas com folha de pagamento não podem ser cobertas apenas pelos aumentos anuais que as instituições recebem da Nação.
Por isso, surgem casos como o da Universidade Nacional, onde entre 1993 e 2023 o número de alunos de graduação cresceu 332%, enquanto os recursos da instituição aumentaram apenas 167%. "Essa lacuna gerou um déficit estrutural que ameaça a qualidade e a sustentabilidade do ensino superior público", afirmou recentemente a UNAL em um comunicado.
Ou casos como o da Universidade de Antioquia, cuja crise atual (que a levou a entrar em um plano de austeridade, atrasar seus pagamentos e, até o momento, os professores não foram reconhecidos pelos novos pontos ganhos desde setembro) é explicada por sua direção como sendo decorrente da falta de financiamento decorrente da Lei 30.

Universidade Nacional da Colômbia, Bogotá. Foto: Arquivo privado.
Especificamente, a questão salarial é uma das mais preocupantes no relatório da Controladoria, que "permite o acúmulo de pontos salariais por produtividade acadêmica, fazendo com que os custos anuais cresçam a uma taxa significativa enquanto os recursos orçamentários alocados para cobrir essas despesas não acompanham o ritmo, deixando essas entidades com dificuldades para cumprir com suas obrigações. Um caso notável é o da Universidade de Antioquia, que em 2017 reconheceu um Valor Anual de Pontos Atribuídos de US$ 10,364 bilhões, enquanto em 2024 esse valor subiu para US$ 18,239 bilhões, representando um aumento de 76%.
Sobre esse ponto, a análise da entidade observa que "o país nunca destinou recursos específicos para cobrir os aumentos salariais mencionados. Embora recursos adicionais tenham sido transferidos, grande parte deles foi destinada. É o caso dos planos de cobertura que as universidades vêm implementando".
Um futuro cinzento Ao contrário do que ocorre com outros projetos, parece haver consenso de que é necessário reformar a Lei 30 de 1992 e, de fato, em setembro do ano passado, o Ministério da Educação e parlamentares de diferentes partidos apresentaram um projeto de lei para reformar os artigos 86 e 87 (aqueles referentes ao financiamento).
Entre outras coisas, o projeto de lei substitui o IPC pelo Índice de Custo do Ensino Superior (ICES) como referência para atualizações orçamentárias, vincula o crescimento das contribuições ao crescimento real do PIB e inclui critérios de qualidade, cobertura, equidade e inclusão.
No entanto, apesar do apoio do governo e do partido no poder à iniciativa, essa reforma não gerou força suficiente no Congresso e ainda aguarda seu debate inicial na Sexta Comissão do Senado. Portanto, a discussão sobre como salvar financeiramente as universidades públicas estagnou.
Além disso, há algumas semanas, o Ministério da Educação publicou um decreto buscando formalizar as cátedras universitárias, reduzindo significativamente os contratos temporários, eventuais e por hora.
A esse respeito, Jairo Torres, presidente da SUE (Universidade Nacional de El Salvador), afirmou que "esses planos de formalização custariam 2,9 bilhões de pesos adicionais por ano ao orçamento operacional" somente para as universidades públicas (sem incluir as instituições técnicas e tecnológicas oficiais, às quais o decreto também se aplica).
MATEO CHACÓN ORDUZ | Subeditor Educação - Vida
eltiempo