100 anos da Bauhaus Dessau: o que resta do legado da lendária escola de arte?

Em 1925, a escola foi transferida de Weimar para Dessau por motivos políticos. Em 1932, mudou-se para Berlim, onde fechou as portas um ano depois, sob pressão dos nazistas. Muitos dos cerca de 2.000 alunos da Bauhaus fugiram da Alemanha para escapar do regime nazista. "Naquela época, a Bauhaus era percebida pelas pessoas como um sociotopo bastante peculiar, cujas ideias educacionais progressistas, novas abordagens de design e, em última análise, a pretensão de criar um 'novo ser humano' foram recebidas com surpresa, às vezes até oposição e até rejeição em muitos lugares", explica Willmann. Com a emigração de alunos e professores, as ideias da Bauhaus se espalharam pelo mundo. Isso moldou o design mundial, seja em Tel Aviv, Xangai, Nova York ou Chicago. "Muitas das ideias da Bauhaus só foram concretizadas depois da Segunda Guerra Mundial. Alguns historiadores dizem que a melhor coisa que poderia ter acontecido à Bauhaus foi seu fechamento." Isso alimentou o mito em torno da Bauhaus e transformou a escola de arte em uma lenda.
A cantina da Bauhaus Dessau com bancos de Marcel Breuer, 1926.
A história da Bauhaus não começa com a arquitetura , mas com o expressionismo artístico e questões de artes aplicadas, explica o professor – e diz sobre os dias atuais: "A Universidade Bauhaus em Weimar está posicionada de forma mais ampla hoje: há uma Faculdade de Mídia, uma Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, uma Faculdade de Engenharia Civil e Ambiental e, claro, uma Faculdade de Arte e Design. A Bauhaus de Weimar daquela época não é a Bauhaus de hoje." Como a universidade é tão diversa, é importante para ele falar por si mesmo e por sua cátedra, e não por toda a instituição. O legado da Bauhaus, acrescenta seu assistente de pesquisa Michael Braun, não reside em artefatos específicos como uma cadeira tubular de aço, mas na ideia de que o design carrega uma responsabilidade social. "Muitas vezes nos concentramos nos objetos que a Bauhaus produziu. Mas a maior conquista foi entender o design como um serviço à sociedade", diz Braun. "Essa ainda é uma ideia radical hoje — se você a levar a sério. Em relação à crise climática, à divisão social e à desigualdade digital, precisamos de uma nova ética de responsabilidade no design."
Ele vê a Bauhaus histórica como um espaço de projeção; ele a chama de laboratório, não de dogma. Embora o mito do estilo racional e funcional tenha sobrevivido, a Bauhaus também oferecia cursos sobre teoria esotérica da cor, percepção sensorial de materiais e corpos e pedagogia espiritual, explica Braun. "Quando os alunos vêm à Universidade Bauhaus hoje, raramente é por lealdade histórica", acredita ele. "Eles encontram sua própria perspectiva aqui e cada vez mais pensam no design como uma ferramenta social."
Quem é o sucessor da Bauhaus hoje?Mas já existiu outra escola de pensamento como a Bauhaus na Alemanha? Com certeza, dizem os especialistas, apontando para a Escola de Design de Ulm, que fechou em 1968 e se baseava em modelos de ensino semelhantes. Ou para o Centro de Arte e Mídia de Karlsruhe, apelidado de "Bauhaus digital". Seu prédio também abriga a escola onde Lisa Ertel e Anne-Sophie Oberkrome estudaram. As designers fundaram seu Studio Œ em 2021 e também lecionam na Universidade de Belas Artes de Hamburgo. Sua cadeira "Neil" já faz parte do acervo do Museu de Design Vitra.
"Os paralelos que identificamos com a Bauhaus têm pouco a ver com o estilo que nos vem à mente quando ouvimos a palavra, mas sim com a abordagem que usamos", diz Lisa Ertel, referindo-se ao pensamento interdisciplinar. "Nunca nos consideramos designers alemães. Estudamos em Karlsruhe e depois fomos para Berlim, mas poderia ter sido a Holanda", acrescenta Oberkrome. "Só podemos falar por nós mesmos, é claro, mas seria bom se o design alemão ousasse um pouco mais", diz Ertel – semelhante à Bauhaus, que ainda goza de uma reputação de experimentação.
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