Estudo sugere que medicamentos para TDAH têm benefícios mais amplos na vida

O tratamento medicamentoso pode ajudar pessoas recém-diagnosticadas com TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) a reduzir o risco de abuso de substâncias, comportamento suicida, acidentes de transporte e criminalidade, sugere um estudo.
Esses problemas estão ligados a sintomas comuns de TDAH, como agir impulsivamente e se distrair facilmente.
Acredita-se que cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos no mundo todo sejam afetados pelo transtorno — e um número crescente está sendo diagnosticado.
As descobertas, publicadas no British Medical Journal (BMJ), confirmam os benefícios potenciais mais amplos do tratamento medicamentoso e podem ajudar os pacientes a decidir se devem ou não iniciar a medicação, dizem os pesquisadores.
Ter TDAH significa que o cérebro funciona de forma diferente do da maioria das pessoas.
Os sintomas podem incluir dificuldades de concentração e de ficar parado, altos níveis de energia e impulsividade.
Apesar do aumento no número de pessoas que pedem ajuda, o transtorno não está se tornando mais comum. No ano passado, uma investigação da BBC constatou longas esperas por atendimento no Reino Unido.
As pessoas só são diagnosticadas se os sintomas causarem pelo menos um impacto moderado em suas vidas.
Os medicamentos mais comumente prescritos, chamados estimulantes, ajudam a controlar os sintomas diários, mas há evidências limitadas de benefícios a longo prazo para o comportamento das pessoas, enquanto efeitos colaterais amplamente divulgados, como dores de cabeça, perda de apetite e problemas para dormir, geraram debates sobre sua segurança.
Este estudo do BMJ foi baseado em 148.500 pessoas com idades entre seis e 64 anos, com TDAH na Suécia.
Cerca de 57% iniciaram tratamento medicamentoso e, destes, o metilfenidato (também conhecido como Ritalina) foi prescrito para 88%.
Os pesquisadores, da Universidade de Southampton e do Instituto Karolinska em Estocolmo, descobriram que tomar medicamentos para TDAH estava associado à redução de primeiros casos de:
- comportamento suicida - 17%
- abuso de substâncias - 15%
- acidentes de transporte - 12%
- comportamento criminoso - 13%
Quando eventos recorrentes foram analisados, os pesquisadores descobriram que a medicação para TDAH estava associada a reduções de:
- 15% para tentativas de suicídio
- 25% para abuso de substâncias
- 4% para lesões acidentais
- 16% para acidentes de transporte
- 25% para comportamento criminoso
"Muitas vezes não há informações sobre os riscos de não tratar o TDAH", disse o professor Samuele Cortese, autor do estudo e professor de psiquiatria infantil e adolescente na Universidade de Southampton.
"Agora temos evidências de que eles [os medicamentos] podem reduzir esses riscos."
Isso pode ser explicado pelo fato de a medicação reduzir o comportamento impulsivo e a falta de concentração, o que pode reduzir o risco de acidentes ao dirigir e reduzir o comportamento agressivo que pode levar à criminalidade.
Os pesquisadores dizem que o estudo foi projetado para ser o mais robusto possível, mas não podem descartar a possibilidade de os resultados terem sido afetados por fatores como os genes das pessoas, estilos de vida e a gravidade do TDAH.
O acesso à medicação adequada para TDAH não é fácil em muitos países, com alguns medicamentos em falta. No Reino Unido, o tempo de espera para consultar especialistas após o diagnóstico e obter acesso aos medicamentos pode levar vários anos.
O professor Stuart Kinner, chefe do Justice Health Group na Curtin University, na Austrália Ocidental, disse que a pesquisa demonstrou "os benefícios difusos do diagnóstico e tratamento do TDAH".
"A falha em diagnosticar e tratar o TDAH pode levar à automedicação com álcool ou outras drogas, problemas de saúde mental, lesões e encarceramento", disse ele.
"Muitas pessoas com TDAH não diagnosticado acabam no sistema de justiça criminal, onde sua condição pode permanecer sem diagnóstico e sem tratamento."
Ian Maidment, professor de farmácia clínica na Universidade de Aston, disse que o estudo "aumenta nossa compreensão dos benefícios potenciais desses medicamentos".
No entanto, ele disse que a pesquisa não avaliou se os pacientes realmente tomaram seus medicamentos ou o impacto de diferentes doses.
BBC