A Ford e a GM ainda são americanas?

Por décadas, a Ford e a General Motors foram símbolos da indústria americana, do orgulho operário e da garra do interior. Da robusta Ford F-150 à americana Chevy, as Três Grandes de Detroit — Ford, GM e Chrysler (agora parte da Stellantis) — dominaram o mercado automobilístico com veículos fabricados e vendidos nos Estados Unidos. A Ford F-150 é um símbolo cultural.
Para muitos, Detroit continua sendo o coração da indústria automobilística dos EUA, uma percepção reforçada por bilhões de dólares em investimentos recentes voltados para a conquista dos mercados de veículos elétricos e autônomos. Mas um novo ranking põe toda essa identidade em questão.
O Índice Anual American-Made da Cars.com , agora em seu 20º ano, acaba de ser lançado e apresenta um panorama surpreendente. A lista, que classifica veículos com base em fatores como empregos em fábricas nos EUA, fábricas e a porcentagem de peças nacionais, revela o quão "americano" um carro realmente é. E este ano, os resultados são um pesadelo de relações públicas para a velha guarda.
Em uma lista dos 20 mais vendidos, dominada pela Tesla, as marcas americanas tradicionais praticamente não aparecem. A GM conseguiu colocar apenas um veículo, a picape Chevy Colorado, na modesta 19ª posição. A Ford não tem nenhum modelo entre os 20 mais vendidos. Enquanto isso, todos os modelos da Tesla — exceto o Cybertruck — entraram na lista, com o Model 3 ocupando o primeiro lugar. Até a Stellantis salvou a cara com o Jeep Gladiator e o Wrangler, ambos montados em Toledo, Ohio. Já as montadoras japonesas e coreanas — incluindo Honda, Toyota, Nissan e Kia — também se destacaram, com vários modelos montados em fábricas americanas.
Este ranking chega em um momento politicamente carregado. O presidente Donald J. Trump lançou uma nova guerra comercial, impondo recentemente uma tarifa de 25% sobre todos os carros importados, que entrou em vigor em 3 de abril. O governo defendeu a filosofia de fabricação "América em Primeiro Lugar", mas as montadoras mais emblemáticas do país estão construindo carros que, por essa métrica, são menos americanos do que seus concorrentes estrangeiros.
Quando contatadas pelo Gizmodo, tanto a GM quanto a Ford desviaram o assunto, preferindo destacar seus investimentos e números de criação de empregos em vez de abordar seu fraco desempenho no ranking.
"Adicionamos aproximadamente 13.000 empregos nos EUA desde 2008", disse um porta-voz da Ford, observando que a empresa emprega mais trabalhadores automotivos por hora do que qualquer outra empresa nos EUA. "80% dos veículos que vendemos nos EUA são montados aqui".
A GM destacou um anúncio recente prometendo um investimento de US$ 4 bilhões em suas fábricas domésticas. "Estamos comprometidos com a fabricação americana e estamos expandindo a produção nos EUA", disse um porta-voz ao Gizmodo.
Para ser justo, ambas as empresas são grandes empregadoras nos EUA. No final de 2024, a GM empregava 90.000 pessoas no país (56% de sua força de trabalho global), enquanto a Ford empregava quase 89.000 (52% do total). A GM ainda é a maior montadora dos EUA em participação de mercado.
Mas os critérios do Cars.com vão além da montagem. Ele analisa a origem dos motores e transmissões e a porcentagem de peças americanas e canadenses. O site alerta que "só porque um modelo pode ser fabricado em uma fábrica de montagem americana não significa necessariamente que seja fabricado exclusivamente aqui".
Para empresas que construíram suas marcas com base na identidade americana, o fato de seus veículos nem sequer chegarem ao top 15 é uma péssima imagem. Isso sugere que, na indústria automobilística globalizada, o rótulo "feito nos Estados Unidos" é muito mais complexo do que parece.
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