‘Palestina livre’: o novo ‘Heil Hitler’?

Poucos slogans ficaram tão populares como ‘Free Palestine‘. Usado desde 2023 e reiterado em protestos nas redes sociais, pixações, gritos nas ruas e universidades ao redor do mundo – entre faixas, bandeiras, keffiyehs e fogueiras diante de sinagogas –, tornou-se quase um dogma. Seria um apelo à justiça, uma causa humanitária, ou apenas ‘a versão contemporânea de Heil Hitler’, como afirmou o Primeiro-ministro de Israel após o atentado terrorista em Washington que, em maio, ceifou as vidas de Yaron Lischinsky e Sara Milgrim, um jovem e lindo casal?

Adeptos num estádio gritando “Palestina livre” enquanto alguns executam a saudação nazi Costumo ver os mesmos nas manifestações em Paris
A frase completa, “do rio ao mar, a Palestina será livre”, indica um território onde o Estado hebreu não existiria mais. Assim, Palestina livre, que se apresenta como “bandeira da liberdade”, não simboliza a criação de um Estado palestino ao lado de Israel. É, na verdade, um eufemismo que clama pela aniquilação total do único Estado judeu do planeta e de seus quase 10 milhões de habitantes, entre os quais cerca de 2 milhões de cidadãos muçulmanos. Palestina livre não é opinião política. É puro e inequívoco antissemitismo. E é uma convocação a um novo genocídio.
Esse discurso não está isolado: é o mesmo de grupos terroristas como o Hamas, a Jihad Islâmica Palestina, o Hezbollah e até setores da Fatah que controlam a Cisjordânia. A carta fundadora do Hamas, em 1988, declara explicitamente esse objetivo. Portanto, os que repetem com fúria o perigoso bordão – mesmo sem perceber, ou ocultando, a violência que o acompanha e o esvaziamento que o “mantra” provoca -, apoiam direta ou indiretamente, organizações políticas e militares que oprimem mulheres, criminalizam homossexuais e usam civis palestinos como escudos humanos.
A Palestina nunca foi um Estado. É uma região geográfica. No máximo, uma designação territorial – como Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, no Brasil. E, infinitamente menor. O chamado “povo palestino”, identidade palestina no sentido nacional, não existia antes da chegada do sionismo e do retorno dos judeus à Terra de Israel. Um povo tem uma história. Os habitantes locais não se consideravam “povo palestino”. Eram súditos do Império Otomano e identificavam-se principalmente como árabes, muçulmanos, cristãos ou habitantes de uma cidade (como Nablus ou Jaffa). Nada que configure uma identidade nacional, uma língua própria ou um projeto político coletivo.
Com as primeiras ondas de imigração judaica, por volta de 1882, e a Declaração Balfour em 1917, as elites árabes locais começaram a se organizar – não para construir uma nação, mas para se opor ao projeto sionista. Sua identidade foi, portanto, estruturada contra o outro, não em torno de um ideal político ou cultural próprio.
A maioria dos árabes na região vinha de famílias que chegaram ao longo dos séculos: árabes do deserto, turcos, circassianos ou islamizados sob o domínio otomano. Não havia bandeira, nem rei, nem língua própria, nem texto fundador, nem figura histórica clara. Em 1917, a população árabe era estimada em cerca de 500 mil pessoas, em sua maioria camponeses vivendo em aldeias sem estrutura política ou cultural sólida. O vínculo com a terra era pragmático, nada de espiritual ou simbólico: “cultivamos, vendemos, nos movemos.”
Mesmo o nome “Palestina” não tem raiz identitária local. Foi batizado pelos romanos e vem de “filisteus” ou “filistinos” que habitavam a “Filisteia”, finalmente “Palestina” que, depois, os ingleses adotaram. A letra “P” nem sequer existe no alfabeto árabe. Os símbolos hoje atribuídos à identidade palestina – a chave, a oliveira, a melancia – são invenções recentes, popularizadas entre os anos 1970 e 1980. Nem o keffiyeh é palestino. Tem origem iraquiana e já era usado na Antiguidade.
O povo judeu, por outro lado, manteve um vínculo espiritual e cultural profundo com essa terra por mais de dois mil anos. Ainda no exílio, orava três vezes ao dia para voltar a Jerusalém, respeitava as leis agrícolas ligadas à terra de Israel, estudava textos de três mil anos e preservava o hebraico como língua litúrgica até reativá-lo como língua viva.
O sionismo não é um projeto colonial. É o retorno de um povo à sua terra ancestral, após séculos de perseguições e com uma memória coletiva intacta. Não há simetria entre israelenses e palestinos. A narrativa judaica é antiga, coerente, profundamente enraizada. A narrativa palestina é recente e reativa, construída na recusa do outro. O discurso sionista se apoia numa história milenar, numa fé, numa língua e numa cultura. O discurso palestino, ao contrário, gira em torno da vitimização e da negação radical do direito de existência de Israel, sem apresentar um projeto próprio viável.
Esse não é um conflito territorial clássico. É o choque entre o retorno histórico de um povo à sua terra depois de milhares de anos de espera e uma narrativa artificial criada para impedi-lo. Enquanto isso não for compreendido, seguirá impossível entender o cerne da questão.
O Estado palestino foi rejeitado sete vezes pelos líderes palestinos
Durante décadas, o panarabismo, a propaganda soviética, o antissemitismo europeu e o fanatismo religioso instrumentalizaram a ideia de “Palestina”. A verdade incómoda é que nem a identidade nacional palestina, nem o Estado palestino jamais existiram – e não por culpa de Israel. Mesmo após a partilha da ONU em 1947 – aceita pelos judeus e rejeitada pelos árabes -, os líderes palestinos recusaram sistematicamente a criação de seu Estado. Sete vezes houve essa oportunidade. Sete vezes preferiram manter o povo em campos de refugiados, culpando o vizinho por todos os males.
Sim, o slogan Free Palestine é uma nova forma de ódio travestida de virtude. Até a próxima, que agora é hoje e quem quer a paz não clama pela violência da eliminação do outro!
observador