Indústria farmacêutica alerta para dívida; dívida já soma US$ 4,3 trilhões: produção e importação de medicamentos podem estar em risco em 2026

A Associação de Laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento Farmacêutico (Afidro) alertou sobre a grave situação financeira enfrentada pelo setor na Colômbia. Um estudo recente realizado em parceria com a empresa Sectorial revelou que o portfólio de laboratórios afiliados atingiu US$ 4,3 bilhões no primeiro trimestre de 2025, um aumento de 31,19% em relação ao final de 2023.
O relatório mostra que 60% da dívida pertence a gestores farmacêuticos, cujo nível de maturidade aumentou de 18,40% em 2023 para 45,82% neste ano. Além disso, o prazo de recuperação da carteira aumentou de 125 para 154 dias, criando um sério problema de liquidez que compromete a continuidade do tratamento de milhões de pacientes.
De acordo com a análise, a maior parcela da dívida está concentrada em tecnologias financiadas pela Unidade de Pagamento Capita (UPC), representando 83,7% da carteira (38,92% em atraso). Os Orçamentos Máximos (PM), que abrangem tecnologias não incluídas na UPC, representam 16,4% da carteira, com 11,65% em atraso.

Principais pontos do relatório de portfólio da Afidro. Foto: Afidro
"Esses números refletem uma deterioração significativa na dinâmica de pagamentos, o que dificulta o planejamento operacional do setor, que precisa continuar prestando serviços apesar do aumento da inadimplência. Estamos enfrentando uma crise financeira que se tornou o maior obstáculo para garantir o acesso dos pacientes à saúde", afirmou Alejandro Escobar, Gerente de Estratégia Setorial da Afidro.
Escobar alertou que o reajuste do UPC para 2025 foi insuficiente. "Vários estudos estimam que esses recursos deveriam aumentar entre 15% e 18%, mas, ao crescerem apenas 5,8%, geram não apenas subfinanciamento, mas também maior instabilidade nos seguros e insuficiência de verbas para os participantes do sistema, o que, por sua vez, leva a atrasos nas consultas e na entrega de medicamentos", explicou.
O executivo acrescentou que esse atraso tem um impacto direto nos gastos diretos dos pacientes e das famílias. "Embora possa não parecer uma mudança muito drástica, na verdade é, pois destaca os problemas no canal institucional e um aumento nos gastos diretos, que eram de 13% no passado, estão atualmente em 15% e a projeção é de que cheguem a 18%", observou.
A consequência mais grave, insistiu Escobar, é que "estamos em uma situação de criticidade sem precedentes no sistema. Sempre houve atrasos nos pagamentos, mas nunca no nível atual. Isso leva a um agravamento ainda maior da doença do paciente. Doenças tradicionais ou simples acabam se tornando doenças graves, e então aqueles que sofrem uma doença grave como resultado dessa situação acabam morrendo".

Os gastos diretos das famílias já chegam a 15% e podem chegar a 18% devido a esse problema. Foto: iStock
O porta-voz também alertou que, se a tendência persistir, o impacto se estenderá à produção e ao fornecimento de medicamentos. Ele explicou que, se a situação persistir, a fabricação de certos medicamentos e a importação de matérias-primas poderão ser afetadas até 2026.
Afidro explicou que esta crise se deve em grande parte ao ajuste insuficiente do UPC e à redução de 5,14% nas dotações do Orçamento Máximo, que passaram de US$ 1,22 trilhão em 2024 para US$ 1,16 trilhão em 2025. Soma-se a isso o fato de que uma parte desses recursos foi destinada ao pagamento de dívidas acumuladas, limitando ainda mais a capacidade de resposta às necessidades atuais.
Para lidar com o subfinanciamento, a Afidro propôs: a criação de grupos de trabalho com o governo, seguradoras e provedores; modernizar a metodologia de cálculo do UPC para levar em conta o envelhecimento da população e as mudanças epidemiológicas; fortalecer a transparência financeira do sistema; e explorar novas fontes de financiamento, como títulos de impacto social, parcerias público-privadas e royalties.
“Resolver a crise do sistema de saúde exige focar em sua causa raiz, que é a falta de financiamento. Na Afidro, pedimos a retomada do diálogo entre todas as partes interessadas para garantir a continuidade do tratamento e proteger o direito dos pacientes a um atendimento digno e oportuno”, concluiu Ignacio Gaitán, presidente da associação.

Ignacio Gaitán Villegas, presidente da Afidro. Foto de : Afidro
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo