Vestígios do asteroide que exterminou os dinossauros da Terra foram encontrados em um canto da Colômbia.

Segundo evidências científicas, a extinção em massa ocorrida no final do Cretáceo, na qual os dinossauros desapareceram da face da Terra há aproximadamente 65,5 milhões de anos, foi causada pelo impacto de um asteroide com mais de 10 quilômetros de diâmetro no Golfo do México. A colisão foi seguida por dias escuros devido às enormes quantidades de poeira — partículas finas do próprio meteorito e de grandes quantidades de rocha pulverizada — que foram distribuídas pelo globo e pela estratosfera, obstruindo a passagem da luz solar.
Este evento deixou uma fina camada de rocha conhecida como limite Cretáceo-Paleogeno (K-Pg), uma parte do nosso planeta onde os restos do trágico evento que exterminou mais de 70% de todas as espécies foram depositados ao redor do mundo. É uma rocha enriquecida por elementos do grupo da platina (ósmio, irídio, rutênio, platina, ródio, paládio), que são um sinal claro para os cientistas de um corpo originário do espaço, pois são extremamente raros nas rochas da crosta terrestre.
Em todo o mundo, paleontólogos se dedicam a buscar esse vestígio extraterrestre em rochas. Amostras que permitiram aos pesquisadores não apenas definir que um grande asteroide de fato caiu na Terra, mas também do que ele era feito e até mesmo sua possível origem (sua composição é carbonosa como aquelas que se formaram originalmente além da órbita de Júpiter), como indica um estudo publicado no ano passado por pesquisadores da Universidade de Colônia (Alemanha) e da Universidade Livre de Bruxelas.
Encontrar vestígios desse impacto na Colômbia e determinar como ele afetou os trópicos, a região de maior biodiversidade do planeta, foi uma tarefa realizada pelos cientistas Felipe de la Parra e Carlos Jaramillo no início dos anos 2000.
Apesar da importância desses locais para o estudo do impacto do asteroide nos ecossistemas da Terra, a camada atual do evento de contorno K-Pg nos trópicos não havia sido identificada, o que limitou o estudo de como a vegetação nessa parte do planeta se transformou após o impacto.
“Nos hemisférios norte e sul, foi documentado que cerca de 35% das plantas foram extintas, mas não sabíamos o que havia acontecido nos trópicos. Estávamos interessados em entender se os níveis de extinção eram maiores ou menores e como a vegetação tropical havia respondido”, explica De la Parra, acrescentando que primeiro era preciso encontrar a camada que identifica o impacto.
Uma tira Esse limite ajuda os cientistas a marcar o horizonte antes e depois da extinção. No entanto, encontrá-los na Colômbia foi uma tarefa difícil devido à densa vegetação que cobre grande parte do país. Isso limita o acesso dos pesquisadores às rochas expostas, onde eles podem procurar pistas deixadas pelo impacto. Uma busca que os pesquisadores compararam a encontrar uma agulha num palheiro.
“Quando o corpo extraterrestre impactou a Península de Yucatán, derreteu as rochas com as quais colidiu, e muitos fragmentos foram ejetados em alta velocidade para a atmosfera. À medida que caíam, esses fragmentos se solidificavam e formavam estruturas milimétricas com formas arredondadas e ovais, conhecidas como esférulas de impacto. Essas estruturas foram encontradas em muitas partes do mundo”, explica De la Parra, acrescentando que, além das esférulas de impacto, outras evidências podem ser encontradas na camada limite K-Pg, como quartzo de choque e uma anomalia na concentração do elemento irídio, detectada em muitas partes do mundo.

Um geólogo durante a busca pela camada que determina o limite K-Pg na Colômbia. Foto: Felipe de la Parra
De la Parra explica: “Decidimos usar a palinologia — o estudo de pólen e esporos fósseis — para rastrear mudanças na vegetação. Sabíamos que as plantas do Cretáceo eram muito diferentes das do Cenozoico. Se conseguíssemos detectar essa mudança, poderíamos restringir a busca à camada física do impacto”, explica De la Parra.
Durante seu trabalho no então Instituto Colombiano de Petróleo, hoje Instituto Colombiano de Petróleo e Transição Energética (ICPET), De la Parra e Jaramillo exploraram ravinas e estradas e analisaram dezenas de poços em busca de uma sequência contínua de rochas que preservassem a transição entre o Cretáceo e o Cenozóico.
"Realizamos análises palinológicas em centenas de amostras e sempre encontramos espécies exclusivas do Cretáceo ou Cenozoico, mas não conseguimos encontrar um registro contínuo onde pudéssemos observar a transição. A busca estava se tornando frustrante", lembra De la Parra.
Mas isso mudou quando uma empresa de mineração e energia perfurou um núcleo rochoso de 700 metros no que é conhecido como Bacia Cesar-Ranchería (um local localizado entre a Sierra Nevada de Santa Marta e as montanhas Perijá, no nordeste da Colômbia). “Estudamos dezenas de amostras daquele núcleo. Lembro-me de um dia em que estava analisando uma das amostras ao microscópio, e ela continha um conjunto muito diverso de espécies do Cretáceo. Na amostra seguinte, todas essas espécies desapareceram e foram substituídas por um conjunto de espécies exclusivas do Cenozoico, com baixíssima diversidade. Foi um dos dias mais emocionantes da minha vida. A distância entre a amostra com pólen fóssil do Cretáceo e a amostra com pólen fóssil do Cenozoico era de apenas 15 metros. Não precisávamos mais procurar por 700 metros, mas sim por apenas 15 metros”, relembra o pesquisador.
Uma análise cuidadosa e detalhada dos 15 metros de rocha permitiu aos cientistas identificar as esférulas de impacto, evidências da camada limite K-Pg na Colômbia depois de tantos anos. Os resultados desta pesquisa foram finalmente publicados no Journal of South American Earth Sciences em 2022.
A origem da Amazônia Os pesquisadores esclarecem que este não é o primeiro local onde foram encontrados vestígios do asteroide na Colômbia, mas é o primeiro na superfície continental. Outros estudos já haviam notado anos antes em Gorgona, mais precisamente na ilha de Gorgonilla, os primeiros registros da camada limite KP-g no país. No entanto, como esses depósitos estavam em um ambiente marinho, eles não tinham os registros de pólen e esporos que os pesquisadores Jaramillo e De la Parra buscavam para responder às perguntas sobre o que aconteceu com as plantas nessa parte do planeta depois que o asteroide atingiu o local.
Especificamente sobre essa questão, um estudo liderado pela colombiana Mónica Carvalho, do qual participaram outros pesquisadores colombianos como Carlos Jaramillo, Felipe de la Parra, Fabiany Herrera e Camila Martínez, entre outros, levou à conclusão de que a origem da floresta amazônica — um dos ecossistemas mais biodiversos do planeta — pode ser resultado de mudanças provocadas pelo impacto da fronteira K-Pg.

Amazônia. Foto: Martín Cicuamia - PNN Colômbia
Pesquisadores usaram palinologia e folhas fossilizadas para entender as mudanças que ocorreram nas florestas do norte da América do Sul durante aquele período. Eles não apenas encontraram mudanças na composição e diversidade das comunidades vegetais, mas também inferiram mudanças na estrutura ecológica da floresta.
As florestas tropicais no final do Cretáceo eram caracterizadas por uma copa aberta e uma mistura de angiospermas (plantas com flores), samambaias e coníferas que eram consumidas por animais herbívoros. As florestas que foram estabelecidas após o impacto tinham uma cobertura vegetal muito mais fechada e multicamadas e eram dominadas principalmente por angiospermas. Muito semelhante às florestas tropicais modernas. “A mudança na estrutura e a recuperação da diversidade levaram cerca de seis milhões de anos, e a porcentagem de extinção de plantas nos trópicos foi de aproximadamente 45%. Isso é superior aos 30% registrados em outras latitudes”, afirma o estudo publicado na prestigiosa revista Science em 2021.
Dessa forma, podemos dizer que sem o impacto do asteroide que exterminou os dinossauros, a Amazônia não existiria. "Sem o impacto da fronteira K-Pg, a Amazônia provavelmente não existiria, os mamíferos talvez não tivessem tido sucesso e, portanto, os humanos talvez nem existissem. É incrível pensar que uma camada de apenas alguns centímetros de espessura, escondida entre centenas de metros de rocha, não apenas conta a história de uma visita extraterrestre, mas também o início de um novo capítulo na evolução da vida em nosso planeta", reflete o pesquisador De la Parra.
eltiempo