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Quão complexo é viajar pela estrada em um carro elétrico? Crônica de uma viagem entre Bogotá e Bucaramanga

Quão complexo é viajar pela estrada em um carro elétrico? Crônica de uma viagem entre Bogotá e Bucaramanga
A cada ano, há mais veículos 100% elétricos nas estradas e cidades colombianas. Este segmento tem apresentado rápido crescimento nos últimos anos. Somente entre 2023 e 2024, as vendas quase triplicaram, passando de 3.708 veículos movidos a bateria para 9.193 unidades vendidas no ano passado em todo o país, com Bogotá, Medellín e Cali liderando o caminho, de acordo com dados da Associação Nacional para a Mobilidade Sustentável (Andemos).
Neste ano, os números são ainda melhores, já que 3.447 carros elétricos foram registrados no país até março, quase a totalidade dos veículos vendidos em 2023. Isso demonstra que o setor não só está crescendo rapidamente, mas que há um interesse crescente por esse tipo de mobilidade. A verdade é que o impacto global da mobilidade elétrica é fundamental para resolver um dos maiores problemas ambientais que o planeta enfrenta hoje: o aumento das temperaturas devido às emissões de gases de efeito estufa.
Ao contrário dos veículos movidos a combustão e híbridos, os veículos 100% elétricos não geram emissões de gases de efeito estufa e, portanto, são uma das ferramentas necessárias para combater as mudanças climáticas. A mudança na composição dos veículos também ajuda a resolver problemas de saúde pública, como a poluição do ar nas grandes cidades. Este é o caso da Colômbia, onde, de acordo com o relatório mais recente do IQAir, o ar em todas as grandes cidades está poluído e não atende aos padrões da Organização Mundial da Saúde.

Apesar do rápido aumento de veículos elétricos, a infraestrutura de carregamento intermunicipal é limitada. Foto: Edwin Caicedo. O TEMPO

Mas quão fácil é fazer longas viagens em um veículo 100% elétrico?
No entanto, embora a mobilidade elétrica seja o futuro, ainda existem muitos desafios hoje. Especialmente na Colômbia. Esta jornada, que deveria ser simples, começa com um luxuoso alemão. Um SUV Mercedes Benz EQS 450 4Matic. O carro-chefe da marca e um carro elétrico familiar de sete lugares, também oferece uma das maiores autonomias disponíveis no mercado nacional, variando de 513 a 616 quilômetros, com capacidade de carga de 108,4 kW/h e uma porta de carga Tipo 1 que também oferece uma opção de carregamento rápido com um conector CCS1.
Pensando nisso, a distância desta viagem não deverá ser um problema, já que o percurso será Bogotá - Bucaramanga, ida e volta, entre as íngremes montanhas do planalto Cundiboyacense e as desafiadoras curvas do Cânion do Chicamocha, em Santander. São apenas 426 quilômetros entre as duas cidades, mas a dificuldade das subidas e o tipo de direção que enfrentamos fazem com que seja necessário parar no meio do caminho para recarregar as energias.
Os motivos são simples: ninguém quer chegar ao destino com o tanque vazio (mesmo dirigindo um carro movido a gasolina) e, em uma viagem que dura em média nove horas, é essencial fazer uma pausa para esticar as pernas e almoçar. Analisando a infraestrutura de carregamento, vemos que há duas opções para recarregar o veículo nos postos de carregamento elétrico Terpel Voltex espalhados pelo país: uma na entrada de Tunja e outra na entrada de Santana (bem no meio da estrada). Ambos os locais possuem carregadores com tecnologia de carregamento rápido, o que nos permite recarregar a bateria em uma hora e meia, tempo suficiente para continuarmos nosso caminho e aproveitar um bom almoço sem pressa.

Na Colômbia, a Terpel Voltex investiu nesse tipo de mobilidade e conta com 24 estações de recarga. Foto: Edwin Ciacedo. O TEMPO

Mas quando começamos nossa jornada, depois de dirigir pouco mais de 100 quilômetros pela savana Cundiboyacense com a resposta de direção e o conforto que só um veículo de luxo como o EQS 450 pode oferecer, encontramos nosso primeiro problema: embora três cabos de carregamento estejam disponíveis nas estações de carregamento Terpel Voltex, cada um tem um tipo diferente de conector. O mundo dos carros elétricos de hoje tem conectores diferentes, assim como nos dias em que cada celular tinha seu próprio tipo de carregador. Existem três que são os mais comuns: tipo 1, tipo 2 e CHAdeMO.
No caso de veículos europeus de nova geração, a maioria vem com uma conexão Tipo 1. E embora muitas pessoas carreguem adaptadores em seus veículos para usar outros conectores, esse não foi o caso no nosso caso. Ao chegar ao posto de carregamento, encontramos um sueco e um alemão: uma van Volvo e uma van Audi que já estavam esperando para carregar. Entre os dois, levaria pouco mais de uma hora e meia para se conectar, então, considerando que ainda tínhamos bastante alcance e bateria suficiente para chegar ao próximo carregador, decidimos continuar até Santana e parar lá para almoçar.

Embora as estações Voltex tenham 3 conectores, cada um tem um tipo diferente de porta. Foto: Edwin Caicedo. O TEMPO

Em Santana era muito mais simples. Não havia ninguém carregando, então simplesmente chegamos, conectamos o veículo e começamos a carregar. Enquanto recarregávamos, almoçamos em um dos restaurantes próximos à estação elétrica, localizada na entrada da cidade. O custo por quilowatt era de US$ 1.700 e a velocidade de carregamento era de 40 kW/h. Considerando que chegamos com mais de 50% de carga, recarregamos cerca de 50 kWh, o que custou US$ 85.150, um preço muito baixo para o tipo de caminhão em que estávamos, uma embarcação com mais de cinco metros de comprimento e quase dois metros de largura que atrai todos os olhares.
Daí veio a parte desafiadora. As curvas, descidas e subidas do Pescadero, no coração do Cânion Chicamocha, onde o torque quase instantâneo de um veículo elétrico fez toda a diferença. Para pessoas acostumadas a dirigir um veículo movido a combustão e serem forçadas (em alguns casos) a acelerar o motor para navegar pelo terreno difícil da Colômbia, um carro elétrico se torna um sonho.
Sem nos preocuparmos com o superaquecimento do motor, com a queima de combustível ao ultrapassar 4.000 rpm ou com o carro morrendo, passamos facilmente pelo trecho mais curto, porém mais exigente, onde o EQS 450, que é um SUV familiar, aproveitou a oportunidade para recarregar as energias nas descidas e nos levar suavemente nas subidas.

O EQS 450 4 Matic é um dos veículos elétricos com maior autonomia do mercado colombiano. Foto: Edwin Caicedo. O TEMPO

Ao chegar em Bucaramanga, com mais de 70% da nossa carga disponível, começamos a nos divertir. Explore suas amplas avenidas principais, como a Carrera 33 e a Rodovia Bucaramanga-Floridablanca, com estradas perfeitamente conservadas e rodovias de três e quatro pistas. Visitamos a família, compartilhamos tempo com amigos e aproveitamos a capacidade do EQS 450 para sete passageiros para levar todos para um passeio e almoço. Como o fim de semana estava se aproximando, decidimos na sexta-feira carregar o carro e retornar no domingo.
Não estávamos com falta de combustível, pois chegamos na quarta-feira e aproveitamos o carregador de 110 V do veículo para recarregar um pouco durante a noite, e estávamos confiantes no único posto de recarga Terpel Voltex da cidade. Entretanto, na manhã de sexta-feira, o posto de carregamento apresentou um erro. O serviço técnico da Terpel nos informou que eles precisavam enviar um técnico para inspecionar a estação e que isso poderia levar cinco dias úteis.
Naquele momento não nos preocupamos. Os veículos elétricos estão em ascensão no país, e uma cidade como Bucaramanga, uma das maiores e mais importantes da Colômbia, certamente precisava ter mais infraestrutura de carregamento disponível. Foi o que pensei. Investigando, descobri que na "cidade dos parques", a Electrificadora de Santander (ESSA), parte do Grupo EPM, instalou vários postos de carregamento rápido na cidade em resposta ao aumento da frota de veículos elétricos.
Estávamos confiantes de que, assim como é o caso em Bogotá com a Enel, que também tem carregadores elétricos distribuídos por toda a cidade, Bucaramanga poderia usar os carregadores ESSA pagando o preço que eles definiram por quilowatt, que normalmente é em média US$ 1.800 pesos.
No entanto, ao chegarmos aos postos de carregamento da ESSA deparamo-nos com dois problemas: o primeiro é que é necessário ter um cartão, que só é entregue a quem tem o cartão de crédito oferecido pela ESSA (ou seja, um viajante ou qualquer pessoa que, como nós, queira utilizar os carregadores livremente não o pode fazer); Mas o maior problema era outro: os carregadores estavam desativados há meses, segundo relatos de outros usuários de carros elétricos que conheci na cidade. O motivo era uma suposta manutenção.

Para usar os carregadores ESSA, você precisa de um cartão especial. Foto: Arquivo privado

Contudo, continuamos indiferentes. Acreditávamos que, considerando que quase 2.000 carros elétricos foram vendidos em Bucaramanga entre 2024 e 2025, seria impossível não haver uma maior infraestrutura de carregamento. Então decidimos ir a um shopping center na cidade que tivesse um posto de recarga e deixar o carro estacionado lá para termos carga suficiente para o retorno a Bogotá. O problema, porém, é que com tantos veículos e tão poucos espaços disponíveis para carregamento, era impossível encontrar um carregador disponível.
No La Quinta Shopping Center havia um BYD e um Audi carregando; No Shopping Center La Florida havia um Audi e um Kia carregando; e no Shopping Cacique os carregadores são da ESSA, e estavam em conserto. Só então comecei a pensar: e agora? Por que uma das maiores e mais importantes cidades do país não possui uma infraestrutura de carregamento que atenda às necessidades de um mercado de mais de 2.000 veículos?
De qualquer forma, o carro ainda tinha carga suficiente para retornar a Santana, dada a ampla autonomia do EQS 450. No entanto, ninguém quer dirigir com a preocupação de não ter "combustível" suficiente para chegar ao seu destino. E como não queria chegar com pressa, resolvi procurar outra opção: consegui carregá-lo com um carregador que particulares me emprestaram, o que me deu autonomia suficiente para sair no domingo com 80% de bateria.
Com essa carga, chegamos tranquilos a Santana, novamente a meio caminho entre Bucaramanga e Bogotá, sem pressa por uma estrada que às vezes nos permitiu desfrutar plenamente de um luxuoso carro alemão que não tem medo de curvas e que aproveita cada metro das retas, mas que ao mesmo tempo nos permite desfrutar da beleza e da imensidão das montanhas que dividem a complicada geografia do país.

Em apenas uma hora, o EQS 450 carregou o que precisávamos para continuar nossa viagem. Foto: Edwin Caicedo. O TEMPO

Em Santana embarcamos e, somando a hora de almoço absolutamente necessária, levamos nove horas e meia para retornar à capital. Uma viagem tranquila que nos deixou, como viajantes, com várias perguntas: Por que uma cidade como Bucaramanga tem uma infraestrutura de carregamento tão limitada quando tem tantos veículos elétricos? Por que a ESSA só permite que moradores da cidade usem seus carregadores e por que eles estão em reparo há tantos meses? Por que o Terpel Voltex (a melhor opção de carregamento intermunicipal do país) só tem um posto de carregamento na capital Santander?
Se a Colômbia já começou a se encher de carros elétricos, e é provável que mais continuem sendo vendidos, o que falta antes que o país comece a se encher de carregadores? Porque com os modelos atuais, a viagem dos sonhos em família que curtimos há alguns dias poderia ter se transformado em um pesadelo, se não fosse a longa duração da bateria que tínhamos. O futuro da mobilidade é elétrico, mas para que esse futuro aconteça, precisamos de carregadores — e muitos deles.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo

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