O festival de Benicàssim, marcado por um boicote de artistas devido ao cerco de Gaza

O Festival Internacional de Benicàssim (FIB) começou nesta quinta-feira sob a sombra de cancelamentos controversos de artistas que decidiram não participar em protesto contra os vínculos do evento com o fundo de investimento americano KKR, acusado de financiar empresas ligadas a Israel e ao conflito palestino. As últimas desistências confirmadas foram o grupo madrilenho Camellos e as cantoras Mushkaa e Jimena Amarillo, que se juntam a uma lista de rejeições que já incluía nomes como Residente, Judeline, Califato 3/4 e Samantha Hudson.
O FIB, que celebra sua 29ª edição até sábado, mantém um lineup liderado por grandes nomes internacionais como Thirty Seconds to Mars e The Black Keys, além de artistas nacionais de destaque como Love of Lesbian, León Benavente e Iván Ferreiro. No entanto, a polêmica em torno do financiamento do festival ofuscou os preparativos para um evento que deveria atrair mais de 130.000 participantes e que, segundo os organizadores, estava praticamente esgotado.
Leia também Os festivais de música estão ficando maiores no Reino Unido, enquanto os pequenos e médios estão morrendo. Rafael Ramos
Os cancelamentos têm sido impressionantes nas últimas semanas, mas foi somente nesta terça-feira que Camellos, Mushkaa e Jimena Amarillo anunciaram publicamente sua decisão de não se apresentar. O grupo Camellos compartilhou um vídeo no Instagram no qual seu vocalista, Frankie Ríos, explicou que a banda "sempre manteve uma posição bastante firme em relação à causa palestina". "Decidimos não ir ao FIB. Os motivos, se você pesquisar um pouco, entenderá com bastante clareza", afirmou o músico, acrescentando que o processo de tomada de decisão dentro da banda foi lento devido à sua estrutura democrática. "Desejamos o melhor aos trabalhadores do festival e nos vemos nos próximos. Do rio ao mar, vocês sabem", concluiu, referindo-se ao slogan pró-palestino "Do rio ao mar".
Mushkaa Cantora lamenta não ter boicotado também o Sónar de BarcelonaPor sua vez, a cantora catalã Mushkaa (Irma Farelo) publicou um comunicado reconhecendo seu arrependimento por não ter boicotado também o festival Sónar no mês passado, onde enfrentou uma situação semelhante. “Naquela época, eu pensava que o boicote não era a única maneira de fazer ativismo e que talvez pudéssemos mudar certas coisas de dentro. Hoje, sinto que cometi um erro”, admitiu. A artista afirmou que agora considera o boicote “a única ferramenta para uma mudança real contra o genocídio” e rejeitou ser “cúmplice de fundos de investimento que transformam a cultura em um negócio para subsidiar o genocídio contra a Palestina”. Jimena Amarillo, outra artista que deixou o lineup, justificou sua decisão no Instagram, citando uma incompatibilidade com seus valores. “Não quero fazer parte de um evento sujeito a interesses financeiros que são incompatíveis comigo”, escreveu ela, encerrando sua mensagem com um contundente “Palestina Livre”.
Leia também O Exit, festival que irritou as autoridades sérvias, enfrenta um possível exílio. Camila Beraldi
Esses cancelamentos seguem os anunciados em dias anteriores, com destaque para o do rapper porto-riquenho Residente, que há uma semana publicou um vídeo explicando sua recusa em participar de qualquer evento ligado à KKR. "Não posso participar por um segundo sequer de nada relacionado a esta tragédia, nem mesmo de forma alguma", declarou. O artista denunciou o fundo americano por financiar "empresas israelenses ligadas à tecnologia militar" e "projetos imobiliários em assentamentos ilegais em territórios palestinos ocupados", contribuindo assim, segundo ele, para "a violação sistemática dos direitos humanos".
lavanguardia