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O que os padrões de votação do Eurovision podem lhe ensinar sobre a política europeia

O que os padrões de votação do Eurovision podem lhe ensinar sobre a política europeia

Antes da final de sábado em Basileia, jornalistas da AFP analisaram todos os pontos distribuídos entre cerca de 2.300 pares possíveis - país votante/país recebedor - desde 1957.

Padrões surgiram, apontando para fatores que vão desde geopolítica e afinidades culturais até o simples amor por uma boa música.

Os vários blocos regionais da Europa que participam da competição — nórdico, ex-Iugoslávia, ex-URSS, báltico — demonstram ampla solidariedade entre si, alocando a maioria de seus pontos aos países de seu próprio bloco.

Noruega, Finlândia, Dinamarca e Islândia contribuíram com mais de um quinto dos pontos que a Suécia recebeu desde sua primeira participação em 1958.

Mas embora os blocos mostrem padrões claros, as discordâncias sugerem que outros fatores também estão em jogo.

As tensões políticas persistem nos Bálcãs, por exemplo, "mas as conexões culturais parecem ter superado as divisões políticas", disse à AFP Dean Vuletic, autor de Postwar Europe and the Eurovision Song Contest (2019).

"Eu diria que isso ocorre porque esses países compartilham uma indústria musical."

Por outro lado, alguns países se destacam pelo número muito baixo de pontos trocados.

Azerbaijão e Armênia, que lutaram duas guerras em Karabakh, trocaram apenas um ponto — em 2009, da Armênia para seu vizinho.

Os padrões de votação também mostram pares distintos de países votando consistentemente acima da média entre si.

Exemplos marcantes aqui incluem Chipre e Grécia, que desde 1981 têm dado um ao outro entre mais de oito pontos (quando o máximo era 12, até 2015) e mais de 18 (quando era 24, desde 2016) a mais do que recebem em média.

Romênia e Moldávia são outro par recíproco, dando uma à outra, desde 2005, entre nove e 12 pontos a mais do que sua pontuação média.

Como países vizinhos, a geografia ajuda a explicar esse comportamento recorrente, assim como a língua, mas também a familiaridade com os artistas.

"Eles se misturam muito", disse Nicholas Charron, da Universidade de Gotemburgo, à AFP.

"Há muita colaboração entre fronteiras em termos de composição, em termos de coreografia, entre os profissionais que trabalharam nesses países."

Por outro lado, também há exemplos de tráfego unidirecional: um país dando notas acima da média para outro que não responde da mesma forma.

Os casos incluem a França, o país que deu mais pontos a Israel do que qualquer outro.

Também vota em excesso em Portugal, assim que o público se pronuncia — a média de pontos atribuídos saltou de três para nove, sem reciprocidade.

Desde 1997, a votação no Eurovision é dividida entre os júris e o público em cada país.

A partir dessa data, e até 2012, a Alemanha demonstrou uma notável superestimação da votação para a Turquia, com uma média de 10 pontos, quando antes havia alocado cerca de 1,4, enquanto os turcos não demonstraram tal camaradagem.

As leis trabalhistas e a demografia podem ajudar a explicar isso: a partir de 1961, como parte de um acordo de trabalhadores convidados, cerca de 750 mil turcos vieram para a Alemanha em busca de empregos, criando, com o tempo, uma grande diáspora.

O voto da diáspora, assim que o público teve voz na votação, também parece estar em jogo nas votações unilaterais francesas.

"Meu palpite é que há muitos portugueses morando na França que estão votando em seu próprio país e quase não há franceses que se importem ou votem de Portugal", disse Charron.

Quanto à relação da França com Israel, "isso de fato se explica porque a França tem a maior comunidade judaica da Europa", disse Florent Parmentier, da Universidade Sciences Po, em Paris.

Eventos críticos podem impactar a votação em anos isolados.

Em 2022, por exemplo, ano em que os tanques russos invadiram a Ucrânia, houve um grande aumento nos votos para Kiev, que venceu a disputa.

E o voto do público decidiu a favor deles.

De 28 dos 39 países, o público concedeu a pontuação máxima à Ucrânia, enquanto apenas cinco jurados o fizeram. Com 439 pontos de um total de 468, nenhum país jamais havia recebido tantos pontos do público.

Uma vitória tão surpreendente pode ser um exemplo de fatores "voláteis" tendo impacto, disse Farid Toubal, da Universidade Paris Dauphine, à AFP.

"A chegada ao governo de um ditador ou de um nacionalista muda a dinâmica em relação aos parceiros (daquele país) no Eurovision."

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