Selecione o idioma

Portuguese

Down Icon

Selecione o país

Portugal

Down Icon

Los Pepes – Gangsters of Love. Dar cor e vida aos espaços

Los Pepes – Gangsters of Love. Dar cor e vida aos espaços

Conheceram-se no Mestrado em Arte e Design para o Espaço Público na Faculdade de Belas Artes do Porto, em 2015. Nessa altura, Francisco Leal, de 33 anos, já possuía um atelier. Acabaram por se apaixonar e Meggie Prata, de 31, passou a ir com ele para o seu «espaço experimental». A dada altura, por diversão, entraram nos desenhos um do outro. «No princípio foi mais o Francisco nos meus. (risos) Não éramos uma equipa, mas inevitavelmente acabámos por começar a trabalhar de uma maneira muito orgânica (…) Ele desenhava, eu desenhava por cima, discutíamos através de desenhos. Às vezes parávamos, voltávamos no outro dia… Neste momento, continuamos esse diálogo, mas de uma maneira muito mais organizada. Até porque a responsabilidade mudou, não é? Isto passou a ser o nosso trabalho», conta Meggie à VERSA. Seguiu-se a Polónia e foi aí, em 2017, que, sem querer, perceberam que tinham «criado uma equipa». «Foi assim que Los Pepes nasceram. Ainda demorou uns mesinhos a perceber que estávamos efetivamente a criar qualquer coisa em conjunto», continua a jovem artista.

Na verdade, foi quando viram a necessidade de começar a assinar os quadros que já tinham pintado, que escolheram o nome. «Era preciso assiná-los para mostrar às pessoas o que é que tínhamos andado a fazer em Mestrado. Queríamos fazer uma exposição, uns amigos queriam que nós pintássemos um carro. Na altura, estávamos a ver a série ‘Narcos’ e decidimos dar o nome de Los Pepes à nossa equipa. E Gangsters of Love por sermos namorados», revela Francisco. «Foi tudo assim… Coisas que já tínhamos no quotidiano adaptámos aos Pepes. E como não sabíamos bem onde nos posicionar – se éramos street art, pintores, também temos a parte gráfica -, achámos que Gangsters of Love resultava muito bem. Dá para tudo», brinca Meggie. «E acaba por ser mais do que só uma descrição daquilo que se faz. A maior parte dos perfis acabam por dizer: ‘artista plástico’. Isso é redutor. Nós assim podemos fazer o que nos apetecer», explica Francisco. «Desde que tenha Love! (risos)», completa a companheira.

O primeiro trabalho que fizeram foi pintar esse carro na Hungria, desafiados por uma amiga. «No fundo, já era o nosso estilo. Depois começámos a usá-lo como portfólio… Foi sempre uma evolução. É um exemplo de como nós trabalhávamos no início», diz Meggie. Não tinham um projeto. Levaram as tintas e foram pintando. «Tinha muitos padrões, nós usávamos muito a tática do padrão para corrigir manchinhas. Estávamos a aprender a fazer as coisas e tivemos sorte! Tínhamos falta de experiência e noção, acho que nem percebemos bem a oportunidade fixe que nos estava a aparecer», refere.

Segundo Francisco, as coisas começaram a ficar profissionais quando deixaram de perder tanto tempo a corrigir erros e realmente a avançar com a pintura. «Ao início, começávamos a pintar, depois aquilo escorria de um lado, ou algum de nós fazia uma coisa que o outro não gostava… Hoje em dia chegamos à parede e já sabemos exatamente aquilo que vamos fazer, como fazer… Até somos bastante rápidos. Já temos uma receita. Não é sempre a mesma, mas temos de nos adaptar a cada trabalho. Antigamente perdíamos mais tempo a corrigir!», admite.

A cor e diálogo com as pessoas

O casal transforma qualquer parede numa tela vibrante e cativante, usando cores e padrões para criar obras de arte que contam histórias e evocam emoções. A cor é mesmo «um dado adquirido». Depois, tentam relacionar o que estão a fazer com o espaço onde estão a trabalhar. «Tentamos sempre estudar as vilas, cidades ou as ruas… Pegar em alguma coisa que seja interessante para deixar no sítio. Um exemplo prático: há uns anos pintámos um mural sobre a chanfana. Foi numa terra perto de Coimbra. Metemos a receita, colocámos uma data de informação sobre ela, mas de uma maneira mais artista. Quando as pessoas começaram a perceber que se tratava da chanfana, começaram a dar-nos cada vez mais informações. Paravam, falavam umas com as outras… Criou-se um diálogo à volta do sítio», lembra a jovem. «É mesmo interessante. Tu estás a pintar e as pessoas passam e falam. Tu ouves. Vão explicando umas às outras o que veem. E também inventam coisas que nós muitas vezes não estamos a ver», acrescenta Francisco.

Neste momento, a dupla está a pintar dois murais na Amadora. «É uma pintura integrada numa atividade que começámos a desenvolver o ano passado com uma associação local e a CMAmadora», esclarece. Desta vez, não há um tema local que estejam a explorar. «Tentámos, por isso, representar um bocadinho as pessoas que conhecemos», conta. E, de acordo com o companheiro, neste caso, é mais interessante relacionar o mural com pessoas do local, do que com personagens que parecem mais simbólicas. «Assim o mural fica único. Se não acabávamos todos a representar sempre o Fernando Pessoa, o Camões e a Amália. É preciso fazer coisas diferentes, inovar e aprofundar. A vida dentro do bairro tem mais conteúdo», acredita.

Mas nem sempre o conseguem fazer. «Às vezes estamos a fazer murais no estrangeiro e é preciso fazer outro tipo de investigação, uma investigação mais online, mais generalista», explica. No entanto, quando lá chegam «a própria comunicação com as pessoas faz com que elas façam parte da peça». «Elas percebem-na e, a partir desse momento, começam a gostar muito mais dela, porque lhes faz sentido. Elas passam-nos um bocadinho da história sobre aquilo que estamos a representar. Por isso, estamos a aprender ao mesmo tempo que estamos a representar algo no local», diz Francisco. Além de Portugal, o casal trabalha muito em França, país onde também se sentem em casa pela forma como são recebidos.

Dar vida aos locais

Em 2021, numa entrevista ao Nascer do SOL, Francisco dizia que o seu objetivo não era passar mensagens, mas sim que a obra ocupasse o espaço, «desse vida às pessoas». «Continuo a concordar com isso, mas já passaram quase cinco anos. Acho que atualmente é preciso que a pintura preencha o espaço, faça com que as pessoas vivam melhor, mas mais do que isso, é interessante incluir as pessoas no processo, porque quando isso acontece elas percebem o valor que aquilo tem realmente», defende. «Ou seja, mais do que o significado que nós damos, no espaço público é o significado que as pessoas dão. Isso foge um bocadinho do nosso controlo. É o poder da arte e das cores!», frisa a namorada.

Durante o ano de 2020, a dupla pintou um prédio de 13 andares em Montargis, nos arredores de Paris. E para Francisco, a altura é quase sempre o principal desafio. «A forma como vamos chegar lá acima… Às vezes corre bem e é fácil, outras vezes temos de andar lá a discutir com os senhores das obras como é que eles vão meter os andaimes para nós pintarmos», afirma. «A grua só chegava aos 11 andares. Decidiram que íamos pintar do telhado para baixo. Estávamos cheios de medo. Foi um bocado assustador! (risos) Hoje em dia já temos mais experiência, já conseguimos fazer as perguntas certas para ter os materiais certos», garante Meggie.

Quando terminarem a pintura na Amadora, o casal segue para uma nova aventura na Avenida de Roma. «Entre os vários projetos de pintura mural que temos, vamos desenvolvendo outro tipo de trabalho e participando em projetos de outra natureza: artísticos, mas também funcionais no dia-a-dia das pessoas, na medida em que não são pinturas ou esculturas. São desenhos nossos, ou projetos nossos adaptados a diferentes contextos. Esta parte também nos interessa porque é desafiante e leva-nos a encarar a nossa prática de maneiras diferentes e a abrir possibilidades novas. Podem ser objetos, edições limitadas em colaboração com marcas, desenhar coleções de determinados produtos», adianta a artista.

Em termos de trabalho de atelier, é uma constante, «talvez cada vez mais ligada ao digital». «O Francisco está a explorar o mundo do código e como podemos incluir a tecnologia no nosso trabalho, mas mantém muito a prática do desenho à mão para esboçar e desenvolver projetos. Eu como trabalho muito as formas geométricas uso muito o computador para tudo: esboçar, testar, desenhar», detalha. Neste momento, a dupla está também a preparar a sua primeira participação numa exposição fora da Europa.

Valorizar a arte urbana

Relativamente ao estado da arte urbana no país, Francisco acredita que está em constante crescimento. «Acho que já estamos num ponto em que influencia quase todas as outras artes plásticas. Já nada é independente (…) Já qualquer ilustrador quer ser um muralista, já existem milhares de pessoas no mundo do graffiti e da street art a intervencionar e falar por elas próprias. Isso é bom! Significa que as pessoas gostam e acham importante para a sociedade contemporânea (…) Somos cada vez mais vistos, mais chamados para fazer coisas», refere, acrescentando que mesmo as galerias de arte têm mais interesse em peças de artistas urbanos. «Depois também acontece uma coisa engraçada. Vais a sítios como um bairro social onde se calhar as pessoas são diferentes, mas de arte urbana eles percebem! Sabem os artistas. É uma arte que se relaciona com toda a gente. Desde o galerista entendido no assunto, a uma pessoa qualquer na rua que pode não perceber muito disso. Chega a todos!», constata. «É uma forma de unir as pessoas e de as aproximar da cultura», acrescenta Meggie.

Jornal Sol

Jornal Sol

Notícias semelhantes

Todas as notícias
Animated ArrowAnimated ArrowAnimated Arrow