Gastos com cirurgias extra disparam 75% em Lisboa

Assim, em 2022 foram feitas 7.495 cirurgias adicionais (30,7%) do total. Em 2023, foram realizadas 9.971 (35,6% do total nesse ano) e, em 2024, 12.322 (38% do total). Relativamente à estabilização dos valores com cirurgias adicionais no último ano (que contrasta com o aumento do número total de procedimentos), o Conselho de Administração da ULS de Santa Maria, agora liderado por Carlos Martins, sublinha que isso se deveu a “medidas implementadas e que resultaram numa redução de cerca de 10% no custo médio por cirurgia em produção adicional”.
A decisão foi tomada quando foram detetados pagamentos avultados no serviço de Dermatologia, conhecidos desde a passada sexta-feira, quando a CNN revelou que um dermatologista do Hospital de Santa Maria terá recebido 400 mil euros em 10 sábados de trabalho adicional em 2024.
Noutra ULS onde os dermatologistas estão a ser escrutinados devido aos elevados valores auferidos com cirurgias adicionais, a do Algarve, os gastos também aumentaram e muito em apenas dois anos. De 2022 para 2024, o valor alocado aos pagamentos a profissionais de saúde por cirurgias fora do horário normal de trabalho passou de 4,9 milhões para 7,8 milhões, um aumento de cerca de 60%.
Dermatologista do Santa Maria somou ao todo quase 715 mil euros, mas a codificação estaria correta
Nesse mesmo período, e segundo dados enviados ao Observador pela ULS do Algarve, também aumentou consideravelmente a proporção das cirurgias adicionais em relação às totais. Enquanto em 2022 apenas 29,5% das cirurgias eram feitas em horário extra, essa percentagem escalou para os 36,6% no ano seguinte, e para os 42,1% em 2024 (ou seja, quase metade de todas as cirurgias foram feitas em horário adicional no ano passado). Fonte da ULS do Algarve explicou ao Observador que esta situação está relacionada com a extrema carência de especialistas nesta região do país, e que se tem vindo a agudizar nos últimos anos (potenciando o trabalho adicional realizado com as equipas reduzidas que ainda se mantêm nas unidades públicas da região, onde prolifera a medicina privada).
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Já na maior ULS da zona centro, em Coimbra, os gastos com cirurgias também tiveram aumentos expressivos, de cerca de 50% em dois anos. Passaram de 5,3 milhões em 2022 para 6,5 milhões em 2023 e depois, em 2o24, aumentaram para os 8,2 milhões, segundo informação enviada ao Observador pela ULS de Coimbra. No mesmo período, o número de doentes intervencionados em horário adicional cresceu 62%, passando de 6.128 em 2022 para 9.942 em 2024 (o que representa 29% das cirurgias totais).
Ainda em Lisboa, a ULS de Lisboa Ocidental (que abarca os Hospitais São Francisco Xavier, Egas Moniz e Santa Cruz) não divulgou os gastos totais, optando por enviar informação acerca do gasto médio por cirurgia adicional, que se manteve estável aos longo dos últimos três anos. Em média, um cirurgia deste tipo custou a esta ULS 995 euros em 2022, 1.072 euros em 2023 e 929 euros no ano passado. Quanto ao número absoluto de cirurgias realizadas em horário adicional, estas quase duplicaram em apenas dois anos (passando de 4.004 em 2022 para 7.642 em 2024, um aumento de 90%). Enquanto em 2022 estas cirurgias fora do horário normal dos profissionais representaram 23,1% do total, em 2024 foram já 34,7% do total de cirurgias programadas.
Assim, e multiplicando o gasto médio por cirurgia pelo total de intervenções feitas na ULS de Lisboa Ocidental, concluiu-se que foram gastos foram de cerca de quatro milhões de euros em 2022 e 7,1 milhões de euros em 2024 — um aumento de cerca de 78% em dois anos.
observador