BEM CONVERSA: Marieta Żukowska - Gostaria que as mulheres acreditassem em si mesmas

Ela possui calma e liberdade. Sutileza e força. Marieta Żukowska – uma das atrizes mais expressivas de sua geração – retorna no filme intimista "The Bow Test", sobre uma mulher que se depara com seu passado. Em entrevista ao Well.pl, ela compartilha suas reflexões sobre adolescência, maternidade, corpo, ternura, paz de espírito, o poder das mulheres e a moda, que deve trazer alegria, não inseguranças. Esta entrevista é repleta de emoção – e consolo.
Marieta Żukowska sobre seu novo papel em "The Bow Trial"Paulina Brzozowska, Well.pl: Vamos falar sobre seu último papel. "The Bow Test" é uma história sobre uma mulher que luta com um mistério, mas também com suas próprias emoções. O que mais te comoveu nessa história – como atriz e como mulher?
Marieta Żukowska: Sabe de uma coisa? Muitas coisas me comoveram. A primeira e mais importante: o mistério. E a paisagem incrível da ilha grega de Tasos, onde filmamos. Esta ilha... não é um lugar comum.
Tasos é a ilha de Dionísio. E Dionísio é um deus que personifica o bem e o mal, capaz de incitar as pessoas à paixão, ao desejo. Em certo momento da história, as pessoas o invocaram, especialmente quando tudo começava a transbordar dentro delas. Essas Dionísias — rituais insanos — eram uma forma de a sociedade liberar emoções.
Também decidimos filmar lá logo após a pandemia. Foi um momento em que todos sentimos a necessidade dessa loucura, dessa exalação. Foi por isso que fomos a Tasos em fevereiro – é quando acontece a Dionísia Selvagem. E essa energia estava realmente presente lá.

E Marta, sua heroína?
Marta está congelada. Há dez anos, ela não sente alegria, felicidade ou dor. Ela se pune intensamente, mas não quero revelar o porquê — você precisa assistir ao filme. Achei incrivelmente interessante que o "sopro" grego do filme — os arquétipos que exploramos — estejam profundamente enraizados em nós. E mesmo que tentemos nos libertar deles, talvez seja melhor simplesmente entendê-los e aceitá-los.
Marta se recusa a aceitar certas coisas do seu passado — o trauma da infância, o desaparecimento do pai e, mais tarde, o desaparecimento do marido. E quando, depois de uma década, retorna à ilha, um lugar que deixou sem ele, ela confronta as emoções mais difíceis.
É um pouco como terapia de choque. Há terapias que duram anos e outras — como as configurações de Hellinger — que são muito intensas. E há também as terapias de choque: você confronta seu maior medo, como na aracnofobia. E é exatamente assim que esta ilha funciona. Ela a choca, desencadeia traumas, mas — paradoxalmente — também começa a curá-los.
Então, para Marta, esse lugar é ao mesmo tempo traumático e curativo?
Sim. A ilha se torna seu gatilho mais difícil — como na psicologia —, que libera tudo o que está oculto. Marta certa vez foi para lá passar férias e voltou sem o marido, mas com um enorme fardo emocional. Dez anos depois, quando o filho está crescendo e a realidade bate cada vez mais forte à sua porta, ela não consegue mais negar.
Esta ilha atua como um catalisador. Por um lado, evoca as emoções mais difíceis dentro dela e, por outro, leva à catarse. Asos é linda. Tem uma natureza avassaladora. Há a chamada "Lágrima de Afrodite" — uma formação rochosa natural no mar onde as mulheres vinham para chorar, se purificar e se abrir para o amor. Há uma cena no filme em que dançamos lá com uma grega — é uma mensagem subliminar. Acreditamos que o cinema funciona nesse nível.
Esse simbolismo parece muito poderoso. Você tem um lugar na sua vida como o da Marta Tasos — algo que te ajuda a voltar para si mesma?
Sim, tenho lugares assim. Quando me perco, vou para as montanhas. Sou um montanhês, venho das montanhas. Ou então, fujo para a natureza completa – para a natureza selvagem. Sei que Varsóvia ou Roma transmitem uma energia incrível, mas também sufocam a verdadeira intuição. Elas dão tanto, mas também tiram tanto.
Tenho uma casa na Toscana, num lugar completamente selvagem. Lá, retorno às minhas raízes. Já me emociono só de pensar em quanta energia isso me dará. No inverno, costumo ir às Montanhas Tatra – não para esquiar, mas para fazer trilhas. É a minha maneira de retornar a mim mesmo. Nesses momentos, encontro forças, reavalio as coisas e recomeço. Assim como na vida.
Marieta Żukowska sobre feminilidade e maturidadeVocê mencionou certa vez que, à medida que a mulher envelhece, ela deve começar a reorganizar sua vida — a reavaliá-la. Como você percebe a feminilidade madura hoje e esse processo de se tornar ela mesma?
Essa é uma pergunta interessante. Sabe, eu me afastei da palavra "deveria". Acho que tudo acontece naturalmente. A vida, nossos corações — eles nos oferecem soluções no momento certo.
Por um lado, amadurecer significa rugas e um corpo envelhecido, mas, por outro, é uma lição. Sempre há uma compensação na vida. Cada papel difícil que me afeta emocionalmente também me traz uma tremenda empatia e compreensão de mim mesma e dos outros. Não é uma perda — muito pelo contrário. Acredito que a maturidade traz alegria. Minha vida aos quarenta anos é muito mais tranquila e gratificante do que quando eu era mais jovem. Aquela época foi mais difícil.
Recentemente fiz aniversário. Minhas filhas me fizeram um bolo — exatamente como eu gosto. Os presentes vieram do coração. E isso me basta. Minhas expectativas mudaram. Não preciso mais provar nada a ninguém — seja ter a casa, o carro ou a bolsa perfeitos. Fico feliz quando tenho algo bonito, mas isso não é mais minha prioridade.
Hoje você está fazendo isso mais por você do que pelos outros?
Sim. E é uma sensação linda — um alívio enorme. Conquistei o direito de não ter mais que lutar por tudo. Claro — ainda luto por novos papéis e projetos. Agora também estou abrindo um negócio com a minha irmã porque adoro criar. Quando você combina diferentes atividades — teatro, séries de TV, moda —, não precisa mais subordinar tudo a uma única área. Você cria sem pressão, com alegria.
Nosso novo projeto é uma Concept Store. Queremos oferecer às mulheres coisas bonitas e valiosas — não apenas bonitas, mas também autênticas. Sem pompa ou presunção. Acredito que a feminilidade reside nessa leveza e espontaneidade, como um prato de queijo e tomate em uma mesa compartilhada. Ela nos liberta da pressão de uma vida perfeita e regrada.

Parece muito próximo da filosofia slow life.
Porque faz sentido. Dinheiro não define quem você é. Warren Buffett dirige um Volvo antigo e não precisa provar isso a ninguém. A coisa mais linda é quando você pode usar sua experiência e recursos para ajudar os outros. Ajudar tem a vibração emocional mais elevada — realmente cura.
A palavra "ternura" aparece com frequência em suas entrevistas. Como você aprendeu a ser carinhosa consigo mesma?
Foi um longo caminho. Eu era muito exigente comigo mesma – como menina, como violinista e, mais tarde, como estudante de cinema. Eu buscava a perfeição. Era rigorosa. Só com o tempo entendi que não se tratava de ser perfeita.
Lembro-me de uma conversa com uma psicóloga quando eu tinha 25 anos e me preparava para o meu papel em "The Unmoved Mover". Ela me disse: "Você só pode fazer o que faz de melhor. O resto não depende de você." E esse foi um ponto de virada. Comecei a ser minha própria amiga. Parei de me punir, comecei a me recompensar.
Você tem rituais diários que ajudam você a retornar a essa ternura?
Sim, algumas bem simples. Tenho amigos que são como psicoterapia para mim — nossas conversas, piadas e tempo juntos não têm preço. Também valorizo o tempo em família — passar férias juntos, fazer refeições, ir ao cinema, conversar sobre filmes. Coisas tão simples e bonitas criam laços.
Todos os dias tento ser grata – pelas pequenas coisas, pelo que conquistei. À noite, agradeço a mim mesma, mesmo pelas pequenas coisas. E se algo não der certo, tenho outro dia, outra chance. Também pratico meditação transcendental. Ela me ajuda a acalmar minhas emoções e a controlar o estresse. Minhas emoções costumavam ser intensas, mas agora estou aprendendo a dizer a mim mesma: "Calma. Já já."
Isso requer maturidade e trabalho em si mesmo.
Sim, mas vale a pena. Em meio a emoções fortes, é fácil fazer algo de que nos arrependemos depois. E a paz nos dá perspectiva. Ao mesmo tempo, acredito que precisamos viver com paixão — ter a coragem de realizar nossos sonhos. A vida foi feita para ser saboreada com as cores mais bonitas.
Marieta Żukowska sobre moda e estiloE moda? É sua segunda paixão. O que ela significa para você hoje?
Para mim, moda é uma forma de expressão. Estética, alegre, criativa. Eu adoro — mas não como uma corrida, nem como uma obrigação. Em vez disso, é uma oportunidade de expressar algo sobre mim, sobre meu humor. E é exatamente isso que nossa Concept Store, que inauguro em breve com minha irmã, pretende ser: um lugar de beleza e autenticidade, onde as mulheres podem encontrar algo que as faça felizes — sem pressão, sem se sentirem arrogantes. Simplesmente — algo que lhes caia bem.
O que seu estilo diz sobre você hoje?
Hoje, eu diria a mim mesma que meu estilo não segue tendências cegamente. Para mim, moda é mais do que apenas tendências sazonais — é uma expressão de bom senso, uma escolha consciente. Escolho peças de alta qualidade, muitas vezes de marcas polonesas. São peças com preços razoáveis que me dão prazer. Não tenho medo de usar o mesmo vestido várias vezes. Estilo é algo pessoal, algo que te dá confiança. Quando você se sente confiante, tem menos medo de ser julgada.
Procuro qualidade, originalidade e peças atemporais. Admito que moda é o meu ponto fraco — ela pode me animar. Compro bugigangas; não sou fã delas, mas gosto de me presentear com uma peça de roupa bonita, um abajur, uma pintura. Não precisa ser caro. Basta algo que me faça sorrir.
Você tem algo que sempre fará parte da sua identidade fashion?
Sim. Tenho uma fraqueza enorme por acessórios. Consigo gastar mais com acessórios do que com roupas. Tenho as bolsas vintage da minha mãe — lindas, atemporais e cheias de emoção. Uso-as em ocasiões importantes porque me dão força. Aí sinto que minha mãe, que sempre acreditou em mim, está comigo. É incrivelmente simbólico.
Além disso, joias. Eu sempre uso. Adoro criá-las. Agora, minha irmã e eu estamos lançando outra coleção. Diretamente, sem intermediários, às nossas próprias custas. Será uma loja conceito — peças que selecionamos a dedo, lindas e disponíveis a um bom preço. É a nossa paixão.
Adoro sapatos e bolsas. Às vezes, me visto de forma simples, e eles dão o toque final. Eles permitem que você use o mesmo vestido várias vezes e fique completamente diferente.
Quero que as mulheres acreditem em si mesmas e não se preocupem com opiniões. Elas sabem o que funciona para elas, o que as faz brilhar. Estilo é aventura, alegria e autoconfiança.
O que você faz no seu tempo livre quando não está no palco?
Eu invento joias. Eu desenho acessórios. Isso me relaxa. Temos uma casa de campo que meus amigos e eu estamos reformando — juntos, em etapas. Esta casa me ensinou paciência. Percebi que os resultados não precisam ser imediatos. Há uma rede pela qual todos brigam — quando finalmente me deito nela, começo a criar coisas novas.
Tenho um grande sonho: abrir nossa loja-conceito em novembro. Queremos oferecer coisas que as mulheres realmente gostem.
Lembro-me de uma vez ter visto uma mulher no aeroporto usando um anel que eu desenhei — inspirado no meu primeiro prêmio de teatro. Fiquei tão emocionado. Foi mágico. Criar me traz uma alegria imensa, quase tanto quanto o teatro. É o outro lado da minha vida.
O que lhe dá mais alegria na criação?
Quando vejo que algo que fiz traz alegria a alguém. Quando as mulheres usam minhas joias, elas se sentem bonitas. Acredito que a beleza ao nosso redor constrói nosso mundo interior. Certa vez, vi uma palestra no TED em que o palestrante dizia: "Faça qualquer coisa criativa e sua alma crescerá". Eu realmente acredito nisso.
Também acredito no poder das pedras. Atualmente, uso citrino — ele me ajuda a manter a clareza mental e a agudeza dos pensamentos. Às vezes, escolho safira — uma pedra de desafio que só funciona quando as intenções são puras. Joias têm alma para mim.
Qual é sua atitude em relação ao mundo material?
Acredito que a arte tem impacto na saúde mental. A Suíça lançou um programa piloto em que psiquiatras prescrevem visitas a museus — e que a arte pode ajudar com depressão e ansiedade. É brilhante.
Hoje vivemos em um mundo onde o valor é frequentemente medido em dinheiro. Mas isso não leva a lugar nenhum. São as coisas simples, as pequenas alegrias, que são a chave para a felicidade. Não vale a pena se preocupar com o que os outros pensam de você. É a sua vida — concentre-se em si mesmo, no que há de bom em você.
Se você pudesse se reencontrar 20 anos atrás, o que diria à jovem Marita?
Eu diria a ela que ela é uma ótima garota. Que ela será corajosa. Que ela não deveria construir tetos de vidro para si mesma. Que ela não precisa ter medo.
Dói-me o quanto me subestimei na adolescência. E, mesmo assim, eu era valiosa mesmo naquela época. Esta idade é uma época de transformação, de nos sentirmos perdidos. Mas vale a pena tentar, mesmo que algo não dê certo. Tentar de novo. E seguir seus sonhos.
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