Tarifas e antibióticos: o algoritmo que salva a escassez de medicamentos

A cadeia de suprimentos de medicamentos, uma cadeia crítica, é frágil e corre o risco de novas crises com as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos. Essa perspectiva, como destaca um amplo estudo, pode ter efeitos devastadores: "As cadeias de suprimentos de medicamentos são opacas, fragmentadas e com baixa redundância", explica a matemática Giona Casiraghi, que, juntamente com o economista Luca Verginer, ambos da ETH Zurique, e o suíço Georges Andres, é autora da pesquisa celebrada na capa da revista Science. O objetivo: demonstrar como uma abordagem algorítmica pode transformar a gestão de uma das cadeias de suprimentos mais vulneráveis. "Com a produção concentrada em poucas fábricas globais", alerta Casiraghi, "mesmo um atrito moderado pode desencadear escassez de genéricos de baixo custo, como antibióticos, analgésicos ou anestésicos. E as tarifas são instrumentos contundentes aplicados a um sistema já frágil."
O estudo reconstrói os mecanismos por trás dessa fragilidade. A produção de medicamentos críticos — moléculas genéricas de baixo valor e altíssimo impacto social — está atualmente concentrada em poucas áreas, resultando em dependências extremas. Os EUA, por exemplo, importam 43% de seus ingredientes ativos da China, 29% de seus medicamentos pré-embalados do México e quantidades significativas da Índia e da Europa. "Uma tarifa de 125% sobre a tetraciclina, 94% da qual importada de Pequim, dobraria o custo para os hospitais americanos", escreve a Science.
O modelo proposto pelos pesquisadores baseia-se em simulações de rede. Utilizando um "gêmeo digital" da cadeia de suprimentos global, eles demonstraram que a redistribuição inteligente de estoques pode atrasar a escassez em semanas. "A gestão coordenada e a redistribuição flexível ajudam a reduzir interrupções", explica Casiraghi. "Estamos mapeando a produção global para transformar insights sistêmicos em recomendações práticas, identificando onde o fornecimento único é arriscado e propondo o fornecimento duplo ou a estocagem estratégica." O método não elimina riscos, mas dá às autoridades um tempo precioso para importações emergenciais, renegociação de acordos ou preparação de terapias alternativas. "Sem intervenção, uma escassez de 6% de analgésicos se manifesta em 35 dias; com a redistribuição direcionada, ganha-se 43% a mais de tempo", resume o estudo.
A segurança dos pacientes está em jogo. Nos últimos 15 anos, foram documentadas mais de 60 proibições à exportação de antibióticos, desde a pandemia de H1N1 até a Covid-19. "Esses incidentes demonstram que os governos não hesitam em interromper o fornecimento quando as prioridades nacionais prevalecem", escrevem os autores. E se hoje a guerra comercial é sobre terras raras, amanhã poderá ser sobre penicilina ou morfina. Segundo Casiraghi e Verginer, a solução não pode se limitar à relocalização, ou seja, à recolocação da produção dentro das fronteiras nacionais. "Este é um objetivo custoso e tecnicamente complexo. É melhor focar na resiliência sistêmica, combinando estoques, dupla terceirização e, acima de tudo, transparência de dados", explica Verginer.
A pesquisa italiana já atraiu atenção por oferecer ferramentas concretas: plataformas federadas para compartilhamento de dados sem violação de confidencialidade, testes de estresse digitais para identificar gargalos e um novo modelo de governança internacional. "Nossa equipe", resume Casiraghi, "está construindo um gêmeo digital de alta resolução da rede global. Dessa forma, podemos estimar onde ocorrerá a próxima falha e onde as intervenções serão mais eficazes." Este é um passo à frente na proteção desses medicamentos essenciais que, apesar do baixo preço, são infinitamente mais valiosos em termos de vidas salvas.
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