Kunitsu-Gami Path of Goddess, a joia escondida do Switch 2

Capcom funde folclore japonês, RPG de ação e defesa de torre em um dos títulos mais exclusivos do lançamento do console
No rico catálogo de lançamento do Nintendo Switch 2, dominado por grandes nomes e mundos visualmente espetaculares, é fácil ignorar produções menos chamativas. Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é uma delas. Mas por trás do título enigmático e do cenário pseudofeudal esconde-se uma proposta surpreendente: um híbrido entre jogo de ação e defesa de torre que combina mecânicas sólidas, uma direção artística inspirada no folclore xintoísta e uma estrutura de jogabilidade original. O jogo foi lançado originalmente para PlayStation, PC e Xbox em 2024, e agora pela primeira vez nos consoles Nintendo.
O cerne da narrativa gira em torno da deusa Yoshiro e seu protetor Soh. Em um mundo invadido pela corrupção demoníaca dos Seethe, os dois viajam de aldeia em aldeia para purificar a terra por meio de rituais de dança. Durante esses momentos, Yoshiro fica indefesa, e cabe a Soh – controlado diretamente pelo jogador – defendê-la, apoiado por habitantes libertos que se transformam em guerreiros por meio de cristais coletados no campo. A jogabilidade alterna entre uma fase diurna, dedicada à exploração e preparação, e uma fase noturna, na qual ondas de inimigos testam as defesas construídas em torno da deusa. É aqui que Kunitsu-Gami revela sua alma estratégica: cada habitante da aldeia tem um papel único (do lenhador ao mago) e a escolha cuidadosa de posições e combinações é essencial para superar os perigos. A progressão ocorre em ciclos: alguns assentamentos são resolvidos em um único dia, outros exigem vários turnos.
O sistema de combate, fluido mas não imediato, introduz um ligeiro atraso entre a entrada e a ação, evocando a ideia de uma dança cerimonial mesmo nos movimentos de Soh. Soma-se a isso um componente de personalização com talismãs e acessórios que expandem as suas capacidades ou fortalecem os seus aliados. As aldeias libertadas tornam-se polos permanentes, a partir dos quais é possível gerir melhorias e desbloquear novas funções através de máscaras obtidas dos chefes, em lutas que recordam, com um toque de horror, a abordagem tática dos Pikmin. Do ponto de vista técnico, Kunitsu-Gami está entre as melhores demonstrações do potencial visual do Switch 2. Os ambientes mudam de paisagens corrompidas e pulsantes para cenários paradisíacos à medida que o ritual avança, enquanto os efeitos de iluminação e o design de cores realçam cada batalha. A taxa de quadros permanece estável mesmo no modo portátil, apoiada por opções gráficas flexíveis e recursos de acessibilidade úteis.
A seção de áudio se destaca pelo acompanhamento musical evocativo, consistente com o cenário. Menos bem-sucedida é a dublagem em inglês, felizmente substituível pela versão original em japonês. Também digno de nota é o suporte para controles de mouse, válido em gerenciamento estratégico. Apesar da variedade de papéis e inimigos, a estrutura do jogo tende a mostrar seus limites na segunda metade da experiência, com um ritmo que corre o risco de se tornar repetitivo. No entanto, a combinação de estratégia, exploração e ação continua a oferecer ideias interessantes, incentivando o retorno aos níveis já enfrentados para desbloquear habilidades adicionais.
Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é uma das surpresas de maior sucesso do lançamento do Nintendo Switch 2. A Capcom oferece uma mistura original de gêneros, enriquecida por uma direção artística fascinante e uma jogabilidade estratégica que recompensa o planejamento e a adaptação. Não é um título para todos, mas quem procura algo diferente dos sucessos de bilheteria mais conhecidos encontrará nesta obra uma experiência profunda, única e visualmente magnética.
Formato : Switch 2 Editora : Capcom Desenvolvedora : Capcom Classificação : 8/10
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