Tensões entre Tailândia e Camboja: confrontos perto da fronteira deixam um morto e três civis feridos

Tiroteios ocorreram na manhã desta quinta-feira em torno de dois templos antigos que datam do período Angkor (séculos IX a XV), na província tailandesa de Surin e na província cambojana de Oddar Meanchey, informou uma fonte do governo cambojano. Caças F-16 do exército tailandês atingiram dois "alvos militares" cambojanos na quinta-feira, poucas horas após essas trocas de tiros.
Seis caças F-16, enviados da província de Ubon Ratchathani, no nordeste do país, alvejaram "dois alvos militares cambojanos em terra", disse o porta-voz adjunto das Forças Armadas, Ritcha Suksuwanon. Os dois exércitos se acusaram mutuamente de terem aberto fogo primeiro. "Por volta das 8h20 (3h20 na França), as forças cambojanas abriram fogo em direção ao flanco leste do templo Prasat Ta Muen Thom, a aproximadamente 200 metros da base tailandesa", informou o exército tailandês em um comunicado.
Pior crise em 15 anosA Tailândia também acusou o Camboja de usar um drone no local disputado por volta das 7h35 (2h35 na França). Seis soldados cambojanos armados, incluindo lançadores de granadas, aproximaram-se posteriormente de uma cerca de arame farpado, informou o exército, acrescentando que tropas tailandesas gritaram em sua direção para evitar um confronto. "O exército tailandês violou a integridade territorial do Camboja ao lançar um ataque armado contra as forças cambojanas", disse Maly Socheata, porta-voz do Ministério da Defesa do Camboja. "As forças armadas cambojanas exerceram seu direito à legítima defesa, em total conformidade com o direito internacional, para repelir a incursão tailandesa", continuou.
A embaixada tailandesa no Camboja instou seus cidadãos a deixarem o país "o mais rápido possível". Os dois reinos do Sudeste Asiático há muito tempo se desentendem sobre a demarcação de sua fronteira comum, definida durante a época da Indochina Francesa, mas a crise atual é a mais grave em quase quinze anos. A morte de um soldado cambojano durante um tiroteio noturno no final de maio em outra área disputada da fronteira, apelidada de "Triângulo Esmeralda", gerou tensões entre Bangkok e Phnom Penh, que reduziram drasticamente seus laços econômicos e diplomáticos.
O Camboja anunciou na quinta-feira que havia rebaixado as relações diplomáticas com seu vizinho ao "nível mais baixo". No dia anterior, Bangkok chamou de volta seu embaixador em Phnom Penh e expulsou o embaixador cambojano depois que um soldado tailandês perdeu uma perna ao pisar em uma mina terrestre na fronteira. Uma investigação militar tailandesa determinou que o Camboja havia plantado novas minas terrestres na fronteira, disseram as autoridades tailandesas. O Camboja rejeitou as acusações, afirmando que as áreas de fronteira continuam infestadas com minas ativas de "guerras passadas".
“Protegendo a nossa soberania”O primeiro-ministro interino da Tailândia, Phumtham Wechayachai, afirmou na quinta-feira que "a situação exige uma gestão cuidadosa" e "atuação em conformidade com o direito internacional". "Faremos o possível para proteger nossa soberania", afirmou. As tensões levaram o Camboja a suspender a importação de alguns produtos tailandeses e a Tailândia a restringir as viagens nas fronteiras. Indiretamente, também levaram à suspensão do primeiro-ministro tailandês, Paetongtarn Shinawatra, após um escândalo desencadeado pelo vazamento, pelo lado cambojano, de uma ligação telefônica com Hun Sen, que governou o Camboja por quase 40 anos.
SudOuest