No Festival “off” de Avignon, “Peut matter” ou a anatomia de um casal num contexto de capitalismo

O desgaste de um casal até os ossos, o lugar do homem, o da mulher, a educação dos filhos, a ambição, as rivalidades, os ciúmes, as renúncias e os desejos, os pactos feitos e depois traídos, o peso mental, o não dito e o repetido: Peuimporte , texto do autor alemão Marius von Mayenburg, extrai do cotidiano de um casal a essência corrosiva de uma peça que não se pode imaginar encenada de outra forma senão com facas em punho.

Missão cumprida com maestria por dois atores dedicados que assumem os papéis de Erik, ele, e Simone, ela. Marilyne Fontaine e Assane Timbo são dirigidos no La Scala Provence pelo tradutor da peça, Robin Ormond. Este artista, nascido em 1993, criou poucos espetáculos até hoje, mas demonstra um domínio impressionante da linguagem, tratando sua corporalidade em detalhes. E com razão: as palavras aqui produzem um som assombroso que tem tanto, se não mais, efeito do que o significado transmitido. Esse som comum produzido por dois seres que vivem juntos e que, mesmo em desacordo, parecem falar a uma só voz.

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