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O uso excessivo de telas faz com que as crianças precisem ainda mais delas

O uso excessivo de telas faz com que as crianças precisem ainda mais delas
Uso excessivo de telas em crianças
Uma criança usa um celular e um tablet em 18 de outubro de 2023, em Madri. Eduardo Parra / Europa Press (Europa Press)

Saber exatamente quais problemas as telas causam em crianças e adolescentes é uma das maiores questões da ciência atualmente. Há dados sobre problemas emocionais em jovens, e está claro que uma das maiores inovações da última década foram os celulares. Mas os cientistas discordam sobre se as telas são a causa desses problemas emocionais . Um novo artigo científico que analisa quase 300.000 crianças em 117 estudos acredita ter encontrado uma resposta mais sólida: "O que nos dá mais confiança é que analisamos estudos que acompanharam as mesmas crianças ao longo do tempo, não apenas em momentos específicos", diz Roberta Pires Vasconcellos, pesquisadora da Universidade de New South Wales (Sydney, Austrália) e coautora do estudo, publicado na revista American Psychological Association.

O estudo confirmou que quem usa mais telas aos 5 anos tem mais problemas aos 7. “É uma evidência mais forte do que apenas observar que quem usa mais telas agora tem problemas; há uma riqueza de dados que aponta na mesma direção”, explica Pires Vasconcellos.

A pesquisa se concentra apenas em crianças menores de 10 anos, pois estudos semelhantes já foram realizados com adolescentes. "É nessa fase que se constroem as bases da saúde emocional. É como aprender a ler: se você tem dificuldade no início, isso afeta todo o resto", diz Pires Vasconcellos, que também confirma que esses problemas continuam a aumentar com a idade, e os resultados mostram que os efeitos se intensificam com o tempo.

Uma das descobertas mais marcantes do estudo é que o aumento do uso de telas entre crianças faz com que esses jovens precisem ainda mais delas. Surge um ciclo vicioso: "Crianças com problemas podem ser mais propensas a usar telas (para suprir necessidades emocionais não atendidas)", escrevem os autores no estudo. "E crianças que usam telas excessivamente podem ser mais propensas a ter essas necessidades não atendidas (por exemplo, porque estão menos engajadas na escola, com a família ou com os amigos)".

Ansiedade, tristeza, baixa autoestima

O objetivo do estudo é detectar o que eles chamam de "problemas socioemocionais", que são dificuldades que as crianças têm em gerenciar suas emoções e comportamento, como ansiedade, tristeza ou baixa autoestima. Em termos comportamentais, esses problemas podem incluir agressividade, dificuldade de concentração ou quebra constante de regras.

Esse tipo de comportamento ocorre quando as crianças têm dificuldade para administrar seus sentimentos ou se relacionar com outras pessoas. Os autores acreditam que o uso excessivo de telas costuma ser um "sintoma" desses problemas, e não a causa: "Se seu filho está grudado no tablet, ele pode estar tentando controlar a ansiedade ou se sentindo solitário", diz Pires Vasconcellos. "Tirar o iPad não vai resolver; você precisa se perguntar por que ele está tão viciado na tela e ajudá-lo a encontrar maneiras melhores de lidar com o que está sentindo. É como tratar uma febre sem perguntar qual infecção a está causando. Definir um cronômetro não é suficiente", acrescenta.

Ao analisar crianças menores de 10 anos, o estudo não aborda especificamente dois dos principais supostos culpados pelos problemas da adolescência: mídias sociais e celulares. A idade típica para o uso legal de mídias sociais é 13 anos, e os celulares geralmente estão disponíveis a partir dos 12 anos. Embora muitas famílias excedam esses limites, é difícil encontrar uso generalizado em crianças menores de 10 anos. "Nossos dados sugerem que os celulares pioram a situação porque os efeitos foram mais fortes em estudos de 2012 a 2020, justamente quando começaram a ser amplamente utilizados. E desde a pandemia, vemos que muitas crianças com problemas emocionais estão recorrendo ainda mais às telas. Mas a verdade é que encontramos problemas e padrões semelhantes com todos os dispositivos: TV, computador, tablet", diz o cientista.

Videogames, culpado

Antes dos 10 anos, segundo o estudo, o problema são mais os videogames do que as mídias sociais: “O importante não é tanto a tela que eles usam, mas o que fazem quando estão diante dela. Os jogos foram claramente o que mais nos chamou a atenção. Crianças que jogam videogame têm muito mais probabilidade de desenvolver problemas emocionais. Não pudemos estudar as mídias sociais em profundidade porque, em teoria, elas são para maiores de 13 anos, embora saibamos que muito mais crianças as usam secretamente”, diz o pesquisador.

Essa predominância dos videogames sobre as mídias sociais nessa idade causa, em parte, um desequilíbrio de gênero. "É complexo", diz Pires Vasconcellos. "Em geral, meninas que usam muito as telas apresentaram um pouco mais de problemas emocionais do que os meninos. Mas quando olhamos para crianças mais velhas, entre 8 e 10 anos, os meninos parecem mais vulneráveis, especialmente com os videogames. Meninos nessa idade que já têm problemas emocionais tendem a se refugiar nas telas, e isso acaba piorando a situação", acrescenta.

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