Conselhos de Avaliação de Deficiência respondem ao relatório do Ministério do Trabalho sobre casos pendentes: 'Os números do Ministério não refletem a realidade'

Em 13 de agosto, o Ministério do Trabalho encaminhou relatório à Procuradoria-Geral da República alertando sobre milhares de processos que estão paralisados em trâmites necessários para processos como o de solicitação de aposentadoria por invalidez.
O documento revelou que, em 30 de junho de 2025, havia 28.017 procedimentos pendentes nos Conselhos de Avaliação de Deficiência. Segundo a entidade, 17.329 não tinham parecer inicial, 3.791 estavam em processo de recurso e 6.897 ainda não haviam chegado ao Conselho Nacional. Somou-se a isso uma constatação preocupante: mais de US$ 54 bilhões em taxas foram pagos antecipadamente aos conselhos sem que os casos tivessem sido resolvidos.
O relatório, revelado pelo EL TIEMPO, também mostrou uma lacuna de mais de 26.000 casos entre os números reportados pelas diretorias e aqueles reportados pelas AFPs e ARLs, sugerindo arquivos perdidos ou registrados incorretamente.
Diante dessa situação, a Procuradoria-Geral da República alertou que não há clareza nos números nem nos planos de descongestionamento. O órgão de supervisão indicou que apenas Bogotá implementou um plano de choque, enquanto o restante do país não tinha medidas claras. Insistiu também que vários governos regionais estavam sobrecarregados com um acúmulo alarmante de casos: Bogotá com 7.666 casos, Cauca com 2.767, Antioquia com 1.866, Cesar com 952, Tolima com 975 e Meta com 890.

Integrantes da Coljuntas durante o terceiro congresso interno da organização. Foto: Coljuntas
Diante dessa situação, os Conselhos de Avaliação de Deficiência decidiram se manifestar. Em entrevistas a este jornal, diversos porta-vozes dessas organizações afirmaram que os dados divulgados não correspondem à realidade com a qual lidam em suas operações diárias.
O documento oficial — enviado pela Coordenação do Grupo de Medicina do Trabalho da Diretoria de Riscos do Ministério do Trabalho à Procuradoria-Geral da República e corroborado pelo EL TIEMPO — indica, por exemplo, que o Governo Regional de Meta tem 890 processos pendentes e que os casos não resolvidos se acumulam em várias delegacias regionais. No entanto, os governos regionais sustentam que essas informações são imprecisas.
“Fiquei perplexa quando li o artigo. A Procuradoria-Geral da República nunca auditou o Conselho de Meta (...) Hoje, não tenho 890 processos pendentes, como alegam. Por exemplo, em agosto, entramos com 170 processos e já havíamos processado 68 no mesmo mês. O que estão dizendo sobre o nosso conselho é completamente falso”, explicou Yolima Zapata Vasco, diretora do Conselho de Meta.

Yolima Zapata Vasco, diretora do Conselho de Avaliação de Deficiência da Região Meta. Foto: Conselho de Avaliação de Deficiência da Região Meta.
Na mesma linha, Diego Francisco Cruz, diretor administrativo da Coljuntas, afirmou que desconhecia os dados divulgados pelo Ministério do Trabalho. “Não tínhamos conhecimento deste relatório e estamos preocupados por encontrar números completamente imprecisos. É impossível que uma junta como a do Cauca, que funciona há apenas um ano, tenha 2.900 processos pendentes. Seu volume é de apenas 80 casos por mês”, disse ele.

Diego Francisco Cruz, diretor administrativo da Coljuntas. Foto: Coljuntas
Por sua vez, Cristian Collazos, diretor do Conselho Nacional de Avaliação da Deficiência, afirmou que os números oficiais geraram confusão: “Detectamos que o Ministério reporta dados que não explicam de onde vêm. O Conselho Nacional costumava ter uma agenda semestral, mas com os planos de descongestionamento, reduzimos esse prazo para 50 dias. Hoje, lidamos com uma média de 3.500 relatórios por mês, e os 6.500 casos em processamento correspondem ao fluxo normal do sistema, não a um colapso.”

Cristian Collazos, diretor do Conselho Nacional de Avaliação da Deficiência. Foto: Coljuntas
Por fim, a presidente da Coljuntas, Ligia Inés Torres Chávez, também questionou os números do Ministério do Trabalho. "Isso não corresponde à realidade. Nossos relatórios são técnicos, buscam a verdade e seguem um método regulamentado. Apresentar esses números gera uma desconfiança injustificada em nosso trabalho e afeta até mesmo os usuários que aguardam uma decisão", afirmou.

A presidente da Coljuntas, Ligia Inés Torres Chávez. Foto de : Coljuntas
Os porta-vozes concordaram que os Conselhos não tiveram acesso ao relatório em questão. "Trabalhamos com números reais, respaldados por registros e operações diárias. Se o Estado acredita que são diferentes, deve explicar isso e nos permitir verificá-los", concluiu Cruz.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo