O Homem-Dragão de Harbin: evidências decisivas o ligam aos Denisovanos e revolucionam as origens humanas

Durante décadas, o rosto dos denisovanos — um grupo humano extinto do qual apenas dentes, fragmentos de ossos e DNA eram conhecidos — permaneceu um enigma.
Agora, um crânio quase completo encontrado em Harbin, China, em 1933 e mantido em segredo até 2018, torna-se a peça que faltava para entender não apenas suas características físicas, mas também seu lugar exato na árvore evolutiva.
O estudo, publicado em junho de 2025 pela revista científica Cell, revelou que o chamado "Homem-Dragão" ou Homo longi é geneticamente relacionado aos denisovanos, um grupo humano que coexistiu com neandertais e sapiens.
Esta descoberta não apenas responde a uma das questões mais persistentes da paleoantropologia, mas também abre novas hipóteses sobre como nossos ancestrais se espalharam pela Ásia.
Como explicou a National Geographic Latin America, o crânio de Harbin possui uma combinação incomum: tem uma grande capacidade craniana (semelhante à dos humanos modernos), sobrancelhas proeminentes, um nariz largo e uma robustez que não se encaixa facilmente em nenhuma espécie conhecida... pelo menos até agora.
Pistas no DNA A equipe, liderada pelo geneticista Qiaomei Fu, do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia da China, extraiu com sucesso DNA mitocondrial humano de uma amostra de tártaro dentário preso a um dos dentes do crânio de Harbin.

Comparação de crânios da esquerda para a direita: crânio de Dali e crânio de Harbin. Foto: EFE/Kai Geng.
Este material genético foi comparado com sequências de referência obtidas anteriormente de fósseis de Denisova encontrados na Caverna Denisova, na Sibéria.
De acordo com o artigo da Cell, os resultados mostraram correspondências claras com o DNA mitocondrial daqueles antigos hominídeos, indicando que o Homem-Dragão pertencia à linhagem denisovana.
Embora a evidência do DNA nuclear não tenha podido ser totalmente recuperada, o material mitocondrial foi suficiente para estabelecer uma conexão direta.
Como a Live Science também explicou, esse método inovador — extrair DNA do tártaro mineralizado — tornou-se uma ferramenta crucial quando as condições não permitem a recuperação de material genético diretamente do osso . Neste caso, foi fundamental para esclarecer a identidade do crânio sem danificar o fóssil.
Além do DNA, a equipe também analisou proteínas antigas recuperadas do osso petroso do crânio. Essa técnica, conhecida como paleoproteômica, é útil quando o DNA está altamente degradado.
No estudo publicado pela Cell, 95 proteínas únicas foram identificadas, uma das quais tinha uma variante específica também observada em restos mortais de Denisovanos da Sibéria.
Embora as correspondências não tenham sido tão numerosas quanto as obtidas na análise genética, a descoberta de semelhanças de proteínas com amostras de Denisovanos fornece evidências que reforçam a hipótese de que o Homem-Dragão não era uma espécie distinta, como sugerido em 2021 com o nome Homo longi, mas um representante morfologicamente único dos Denisovanos.

Reconstrução do crânio do "Homem-Dragão". Foto: Wei Gao / Chuang Zhao / NBC News.
Como explica a Live Science, os denisovanos foram identificados pela primeira vez em 2010 a partir de DNA extraído de um osso do dedo mindinho encontrado na Sibéria.
Desde então, poucos vestígios atribuíveis a esse grupo foram encontrados, mas seus traços genéticos persistem em muitas populações atuais na Ásia, Oceania e Pacífico. A descoberta em Harbin confirma que sua presença no Leste Asiático era mais disseminada do que se pensava anteriormente.
Além de sua localização geográfica, o crânio de Harbin permite a primeira reconstrução de um possível rosto denisovano. Segundo a National Geographic, sua morfologia robusta e capacidade cerebral semelhante à dos humanos modernos indicam que esse grupo humano extinto pode ter tido desenvolvimentos culturais e adaptativos mais complexos do que as evidências limitadas sugeriam anteriormente.
Com essa descoberta, os cientistas não apenas aproximaram a face dos denisovanos do presente, mas também revelaram a diversidade e o dinamismo da evolução na Ásia durante o Pleistoceno Médio usando novas técnicas, como a paleoproteômica e a extração de DNA de restos não convencionais.
ANGELA MARÍA PÁEZ RODRÍGUEZ - ESCOLA DE JORNALISMO MULTIMÍDIA EL TIEMPO.
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