Avistamento promissor: um casal de águias-reais-da-montanha e seus filhotes, uma das aves mais raras da América do Sul, foram documentados em Huila.

Por mais de oito décadas, a Colômbia registrou apenas 18 ninhos da águia-real-da-montanha (Spizaetus isidori), a maior ave de rapina dos Andes e uma das mais raras do Hemisfério Sul. Dessas poucas descobertas, apenas duas documentaram a presença de um filhote. Portanto, o recente avistamento no departamento de Huila despertou um entusiasmo incomum entre biólogos e ambientalistas.
Nesta ocasião, além do casal adulto, foi registrado todo o processo de incubação e criação dos filhotes, fato que pode marcar um ponto de virada nos esforços para conservar esta espécie à beira do colapso populacional.

A descoberta do casal e do filhote na Huíla representa um marco para a conservação desta ave de rapina. Foto: Conservação Internacional
A descoberta foi confirmada pelo Grupo Ecológico Águila Real de Montaña (YAREIT), em conjunto com o Pacto HYLEA, uma aliança promovida pela Província de Huila, a Corporação Autônoma Regional de Alto Magdalena (CAM), a Conservação Internacional da Colômbia e a IDH. Este esforço coletivo busca fortalecer a sustentabilidade territorial e a conectividade ecológica no Corredor Andino-Amazônico do departamento.
Um símbolo da saúde das florestas andinas O novo ninho foi encontrado em uma área de alta montanha do município de Gigante, próximo ao Parque Natural Regional Cerro Páramo de Miraflores, um dos ecossistemas estratégicos que garantem a continuidade das florestas andinas. De lá, um casal de águias-reais-da-montanha desenvolveu todo o seu ciclo reprodutivo, em meio a um ambiente que, até poucos anos atrás, era ameaçado pela caça e pela exploração madeireira indiscriminada.
“Por muitos anos, víamos apenas um filhote por temporada, mas agora percebemos que a águia está se reproduzindo ano após ano graças aos esforços de conservação e à conscientização da comunidade”, explicou Willington Yáñez, líder do grupo YAREIT. “Anteriormente, essas áreas eram usadas para caça e extração de madeira, mas hoje as pessoas reconhecem a importância desta espécie e estão trabalhando para conservá-la.”
O trabalho de monitoramento permitiu registros detalhados de cada etapa: a construção do ninho, o período de incubação, o nascimento do filhote e seus primeiros voos para fora do ninho. O filhote, inicialmente coberto por uma penugem branca cremosa, adquire gradualmente tons escuros de branco à medida que cresce, antes de desenvolver a plumagem adulta característica que o torna uma das aves mais impressionantes da serra.

O registro foi feito no Parque Natural Regional Cerro Páramo, em Miraflores. Foto: Conservação Internacional
A águia-real-das-montanhas enfrenta duas ameaças principais: a perda acelerada de seu habitat natural e a caça retaliatória, já que em algumas regiões ela é injustamente acusada de atacar animais domésticos. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) estima que sua população global não exceda 1.000 indivíduos, e que na Colômbia possa haver menos de 200 indivíduos restantes.
Sua presença em Huila não representa apenas um triunfo local, mas também um indicador positivo do estado dos ecossistemas andinos, onde o equilíbrio ambiental depende em grande parte de predadores de topo como esta espécie.

As comunidades locais, a CAM e a CI lideram o monitoramento e a restauração de seu habitat. Foto: Conservation International
“A presença deste casal e de seus filhotes em Huila não é apenas um registro científico, é um sinal de esperança”, disse Carlos Costa, diretor executivo da Conservação Internacional Colômbia. “Isso nos lembra que, se trabalharmos em conjunto com comunidades e instituições, podemos reverter o curso das espécies mais ameaçadas e garantir que continuem a desempenhar seu papel vital nos ecossistemas andinos.”
Por sua vez, Camilo Agudelo, diretor do CAM, destacou o papel das comunidades locais na proteção da ave: "Hoje vemos como comunidades, biólogos e instituições se unem pela sua proteção, num momento ideal de coordenação e participação para garantir a sua conservação".
O monitoramento deste ninho não foi apenas uma conquista técnica e biológica. Ele também representa um símbolo da mudança na relação entre as comunidades rurais e seu meio ambiente. Onde antes predominavam a caça e o desmatamento, agora há uma conscientização crescente sobre o valor dos ecossistemas montanhosos e a necessidade de preservar seu equilíbrio.

A águia-real é um símbolo dos Andes, mas está seriamente ameaçada de extinção. Foto: Conservação Internacional
A dieta da águia-real-da-montanha, composta por jacus, papagaios, raposas, esquilos e cusumbos, reforça seu papel no controle natural das populações animais na floresta. Sua sobrevivência, portanto, garante a estabilidade de toda a cadeia alimentar.
A descoberta deste novo ninho é, nas palavras de especialistas, "um sinal de esperança" em um país onde símbolos da biodiversidade andina enfrentam múltiplas ameaças. Em meio às florestas nubladas de Huila, a história de um casal de águias criando seu filhote serve como uma mensagem clara: proteger a vida selvagem também significa proteger a vida humana que depende dessas mesmas florestas.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo