43% dos jovens na Colômbia decidem não frequentar a universidade, segundo uma pesquisa: É só uma questão de dinheiro?

Nas últimas décadas, os maiores esforços dos governos em educação têm se concentrado em garantir que cada vez mais jovens tenham acesso ao ensino superior. Mas o que acontece quando esses mesmos jovens dizem "não" aos estudos?
Tudo parece indicar que é precisamente isso que está acontecendo no mundo todo, e particularmente na América Latina e na Colômbia, pelo menos no que diz respeito à educação formal ou universitária, um fenômeno cada vez mais documentado e evidenciado pela queda nas matrículas universitárias em todo o mundo.
Agora, um novo estudo revela a magnitude desse fenômeno e suas principais causas. Trata-se da "Pesquisa Global sobre a Geração Z e Millennials 2025", desenvolvida pela empresa internacional Deloitte, considerada a maior empresa de serviços profissionais do mundo.
Os resultados desta pesquisa (administrada a mais de 23.000 pessoas em todo o mundo, incluindo a Colômbia) são reveladores. Em todo o mundo, 31% dos jovens da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2006) e 32% dos millennials (nascidos entre 1983 e 1994) decidiram não cursar o ensino superior.
E no caso dos colombianos , esse número dispara, já que 43% da Geração Z e 43% dos millennials já decidiram não continuar os estudos, um número entre 11 e 12 pontos acima da média mundial.
O estudo também analisou os principais motivos que levaram esses indivíduos a tomar essa decisão. À primeira vista, razões financeiras foram o principal motivo para não estudar (74% dos millennials e 64% da Geração Z), bem como circunstâncias pessoais e familiares (40% dos millennials e 41% da Geração Z).
No entanto, um número significativo de participantes colombianos citou outros motivos, que, de acordo com o estudo, revelam uma mudança significativa na dinâmica do que eles esperam ser importante não apenas em sua formação acadêmica, mas também em sua vida profissional.
E 22% da Geração Z e 16% da Geração Y disseram que decidiram não estudar porque seu principal plano de vida era se tornar empreendedor. Além disso, 18% da Geração Z e 16% da Geração Y disseram que buscavam outras carreiras além do ensino superior.
“Para os millennials colombianos e aqueles pertencentes à Geração Z, o sucesso não consiste necessariamente em subir na hierarquia corporativa; em alguns casos, eles são mais motivados pelo empreendedorismo ou por encontrar opções de carreira que lhes permitam equilibrar seu trabalho, seu bem-estar, seu propósito e sua vida pessoal”, destaca Roberto Estrada, sócio de capital humano da Deloitte.

Imagens da fachada da Universidade de los Andes e da Universidade Javeriana. Foto: Imagens retiradas do Google Maps.
Para os especialistas consultados pelo EL TIEMPO, mais do que não estudar, o que essas gerações buscam são novas maneiras de fazê-lo. Por que entrar na universidade e esperar cinco anos para começar a trabalhar? Por que os currículos são tão rígidos? Por que não é possível aprender apenas o que preciso para o meu projeto de vida? Existe uma maneira de aprender sem "enchimento" e sem ficar preso apenas aos ensinamentos de uma disciplina específica?
É assim que o analista educacional Ricardo Rodríguez explica: “Os resultados da pesquisa fazem parte de um quadro global em que os números mostram que cada vez menos jovens acessam o ensino superior. Isso se deve a múltiplos fatores, a começar pelo desencanto com as universidades e por modelos educacionais caros e longos que não conseguiram atender às necessidades de uma população que busca uma inserção profissional mais rápida e um modelo de aprendizagem mais flexível, no qual os alunos decidem o que querem estudar, quando querem estudar e de acordo com suas capacidades.”
Particularmente na Colômbia, esse fenômeno não se traduz em uma queda nas matrículas no ensino superior. Embora as matrículas tenham diminuído entre 2016 e 2021, elas têm aumentado nos últimos anos. No entanto, vale esclarecer que, no país, segundo dados do Ministério da Educação, a taxa bruta de matrícula nesse setor é de 55,38%, e estima-se que haja quase dois milhões de jovens fora do sistema. Portanto, embora haja menos interesse em estudar, isso não se reflete necessariamente nos números de matrículas.
Apesar disso, Gloria Bernal, diretora do Laboratório de Economia Educacional da Universidade Javeriana (LEE), acredita que "a nova oferta de programas não tradicionais, bem como o aumento significativo de modalidades virtuais, fez com que cada vez menos pessoas se interessassem por programas tradicionais".
E a relevância da educação parece estar em jogo nestes tempos. Os jovens sentem cada vez mais que o que aprendem na universidade não é necessariamente o que precisam no mercado de trabalho, e que podem realmente se preparar para isso por outros meios, como cursos modulares e acumuláveis e microcertificações oferecidas, por exemplo, em plataformas como Coursera, Platzi, edX e outras.
De fato, já existem estudos que sugerem isso. Por exemplo, a Pesquisa de Opinião sobre Educação, realizada pela Fundação Empresários pela Educação e pelo Centro Nacional de Consultoria (CNC), constatou que mais da metade dos jovens colombianos empregados não estão na área em que estudam atualmente ou estudaram anteriormente.
Especificamente, 59% dos entrevistados disseram que seu trabalho não tem nenhuma relação com sua área de estudo, e outros 15% disseram que seu trabalho tem apenas parcialmente relação com seus estudos.
Em resposta, Andrea Escobar, diretora da Businesspeople for Education, observou: "A formação a que os jovens têm acesso não é necessariamente a que realmente lhes proporciona oportunidades de emprego. Estamos conectando a orientação profissional corretamente?"
O especialista também destacou que, embora mais da metade dos jovens ainda acredite que um diploma de ensino superior lhes garantirá um emprego melhor, significativos 33% dizem discordar dessa informação.
"Não é uma porcentagem pequena, já que há um grupo significativo de jovens em áreas urbanas que reconhecem que existem outras formas de educação, não necessariamente um diploma universitário", disse Escobar.
Segundo Ricardo Rodríguez, "Se somarmos a isso o fato de que a educação na Colômbia é cara, que o acesso à educação pública não é universal (não é à toa que fatores econômicos continuam sendo o principal motivo para não estudar) e que os planos de vida dos jovens giram em torno de ser empreendedores, não de empregados, e de construir sua vida profissional em momentos diferentes, vemos que a dinâmica da educação está mudando."

Foto do campus da Universidade Icesi : Universidade Icesi
As universidades não são estranhas a essa dinâmica de mudança entre os jovens, e já há muitos exemplos na Colômbia de instituições tentando mudar rapidamente seu modelo para atender a essas necessidades.
Exemplos incluem o novo modelo educacional da Universidade Icesi, em Cali, que, a partir deste ano, oferece programas muito mais curtos, permitindo que os alunos escolham suas disciplinas com base em seus interesses e planos de vida.
Ou casos como os da Universidade de los Andes e da Universidade Javeriana, que este ano anunciaram sua incursão na formação técnica e tecnológica, mas por meio de modelos muito mais flexíveis, como explicou a reitora Raquel Bernal a este jornal: “O modelo que vamos implementar, aproveitando o fato de ser uma instituição nova, é realmente muito diferente do que é oferecido no setor de educação pós-secundária na Colômbia. A ideia é que as pessoas possam construir suas carreiras de forma flexível, empilhando-as como Lego. Podem fazer cursos de quatro meses para que os jovens ganhem alguma empregabilidade e depois comecem a ganhar experiência profissional. Depois, acumulam habilidades de tal forma que, no final, poderiam até adicionar um técnico do trabalho, um tecnólogo; poderíamos até homologar parte disso em especializações tecnológicas.”
Mas isso não é tudo. É cada vez mais comum encontrar instituições simplesmente oferecendo cursos e certificações em plataformas como Coursera ou edX. Lá, jovens podem cursar programas de curta duração para desenvolver uma habilidade específica necessária para suas carreiras, com o apoio, por exemplo, de Los Andes, Javeriana ou da Universidade Nacional, e, por que não, de universidades de renome mundial como Harvard, MIT, Stanford, Oxford, entre outras.
MATEO CHACÓN ORDUZ | Editor Adjunto, Life Today - Educação
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