'O desmatamento é o calcanhar de Aquiles da Colômbia': Claudia Vásquez, diretora da The Nature Conservancy no país

A poucos meses da COP30 sobre mudanças climáticas em Belém do Pará, Brasil, a Colômbia chega com um histórico misto em questões ambientais. Embora tenha liderado processos globais com a Cúpula da Biodiversidade da COP16 e promovido a atualização do Plano Nacional de Biodiversidade, ainda enfrenta desafios significativos na proteção de ecossistemas, na regulamentação da mineração ilegal, no ordenamento do território e na transformação do modelo agrícola. É o que afirma Claudia Vásquez, diretora da The Nature Conservancy (TNC) na Colômbia.
Em entrevista ao EL TIEMPO, o executivo enfatizou que um dos avanços mais importantes foi a valorização do setor ambiental após a COP16. Vásquez enfatizou que a Colômbia atingiu as metas internacionais de proteção de áreas terrestres e marinhas, mas alertou sobre o atraso na proteção dos ecossistemas de água doce, uma dívida crítica pendente para o país.
A especialista alerta que ainda falta planejamento ambiental em projetos de infraestrutura e energia e afirma, sem hesitar, que o desmatamento continua sendo a maior fraqueza da Colômbia na luta pela proteção da biodiversidade.

Claudia Vásquez, diretora da The Nature Conservancy (TNC) na Colômbia. Foto: The Nature Conservancy
Um dos marcos recentes foi a realização da COP16 da Convenção sobre Diversidade Biológica na Colômbia. Além do evento, isso permitiu uma maior conscientização do setor ambiental e o estabelecimento de diálogo com outros ministérios. Graças a esse impulso, foi realizado o trabalho de atualização do Plano Nacional de Biodiversidade, em linha com os compromissos assumidos pelos países na COP15 em Montreal, em 2022.
O que se destaca neste novo Plano Nacional de Biodiversidade? Houve um processo pragmático de workshops e diálogos multissetoriais, onde os compromissos mais relevantes foram estabelecidos. Um dos pontos mais importantes — e frequentemente negligenciado — é a meta para os ecossistemas de água doce. O marco global exige a proteção de pelo menos 30% dos ecossistemas terrestres, marinhos e de água doce, mas na Colômbia este último ponto tem sido mais complexo. Embora tenhamos feito progressos nas áreas terrestres e marinhas, não há um número claro ou uma estratégia robusta para os ecossistemas de água doce.
Por que é tão importante proteger os ecossistemas aquáticos? Porque sem água não há vida. Embora a Colômbia tenha um suprimento abundante de água, seus ecossistemas de água doce estão cada vez mais sob pressão devido às mudanças climáticas, à agricultura intensiva, às práticas inadequadas e à falta de planejamento. Ao contrário dos ecossistemas terrestres, a água se move sem respeitar limites geográficos, o que exige a consideração de diferentes abordagens de proteção. Na TNC, apoiamos o desenvolvimento desse objetivo específico.

Ecossistemas como manguezais, rios e pântanos são essenciais para a conservação da água. Foto: CVC
A Colômbia tem exercido uma liderança importante, especialmente ao reconhecer o papel dos povos indígenas e das comunidades locais na conservação da biodiversidade. Essa relação entre clima e biodiversidade é crucial para países como o nosso, onde uma não pode ser entendida sem a outra. É essencial que essa visão continue a ser fortalecida na Conferência Amazônica sobre Mudanças Climáticas.
Quais comunidades devem ser levadas em consideração além das comunidades indígenas? Além dos povos indígenas, existem guardiões de páramos, savanas naturais e outras comunidades que também desempenham funções vitais de conservação. Embora seja correto focar nas comunidades indígenas, a contribuição de outros atores rurais que protegem ecossistemas estratégicos não pode ser ignorada.
Quais são os principais desafios que a Colômbia ainda enfrenta na conservação da biodiversidade? Há setores, como a agricultura, que ainda não compreendem completamente o que significa viver em um país megadiverso. Este setor é o maior transformador de ecossistemas, mas também tem potencial para se tornar um aliado se adotar modelos regenerativos, agroflorestais ou silvipastoris. Já existem evidências de que formas alternativas de produção de alimentos podem ser benéficas para a natureza.
Que outros desafios você identifica? A mineração ilegal, particularmente no bioma Amazônia, é devastadora e exige respostas transnacionais. Há também a questão da infraestrutura: a Colômbia precisa de maior conectividade, mas de forma planejada para não afetar ecossistemas estratégicos. E a questão energética: embora nossa matriz energética seja considerada livre de emissões, muitas usinas hidrelétricas têm tido impactos muito negativos nos rios devido ao planejamento inadequado.

Mineração ilegal no Cauca. Foto: Polícia Colombiana
O desmatamento é, sem dúvida, o nosso calcanhar de Aquiles. Embora muito se fale sobre a Amazônia, também há transformações severas em outros ecossistemas. No Caribe, por exemplo, restam apenas 8% da floresta tropical seca. As savanas naturais da Orinoquia também enfrentam pressão, assim como os rios, cuja biodiversidade tem sido severamente impactada por decisões cumulativas e mal planejadas. Emitimos emissões, sim, mas o mais grave é que estamos perdendo biodiversidade.

Em 2021, 170.000 hectares foram desmatados na Colômbia. Veja como estão algumas áreas em Chiribiquete. Foto: Ministério da Defesa
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo