Acabou de chegar no Prime Video e ganhou dois Goyas: o filme espanhol que é uma preciosidade e deve ser visto uma vez na vida.
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Há filmes que não só contam uma história, como também conseguem transformar um clássico em uma experiência visual incomparável. A força das imagens, a força do elenco e uma perspectiva distinta fizeram deste projeto um dos empreendimentos mais ousados e celebrados do nosso cinema recente.
Trata-se de nada menos que A Noiva (2015), a obra que consolidou a posição de Paula Ortiz como uma das diretoras mais distintas da última década. O longa, agora disponível no Prime Video, ganhou dois prêmios Goya e transformou a poesia de Federico García Lorca em imagens cortantes como uma faca de cristal.
Inspirado em Bodas de Sangue, o filme traz para a tela grande o triângulo amoroso entre a Noiva, o Noivo e Leonardo, um vínculo marcado pela paixão e pela imposição social. Desde o início, o espectador sabe que o destino dos personagens será trágico, adicionando uma atmosfera de fatalismo que permeia cada cena. A aparição de uma mendiga que alerta a protagonista para não se casar se não amar de verdade reforça o tom sombrio e simbólico de uma história que fala do inevitável.
O roteiro, escrito por Ortiz e Javier García Arredondo, abraça a essência de Lorca, mas permite uma liberdade estilística que transforma cada diálogo em um eco poético. O filme não é apenas uma adaptação para o cinema, mas também uma exploração visual do desejo e da perda.
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O filme reúne um elenco que dá vida aos personagens com uma intensidade de cortar o coração. Inma Cuesta, como a Noiva, oferece uma atuação que oscila entre a fragilidade e a força; Asier Etxeandía, no papel do Noivo, encarna com honestidade a inocência aprisionada em um destino cruel; enquanto Álex García, como Leonardo, transmite essa atração irreprimível. Também brilham ao seu lado Luisa Gavasa, vencedora do Goya de Melhor Atriz Coadjuvante, e nomes como Leticia Dolera e o veterano Carlos Álvarez-Nóvoa.
Grande parte do filme foi filmada em Aragão, nas paisagens áridas de Zaragoza e Huesca. A escolha não foi por acaso: Ortiz buscava locações que reforçassem o tom de tragédia universal. A força do vento "cierzo", que atingia rajadas de mais de 100 km/h, tornou-se um elemento quase central, conferindo uma crueza natural a várias cenas. Longe de ser desconfortável, esse clima hostil condizia com a dureza emocional que permeia a história.
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A estreia de A Noiva, em dezembro de 2015, foi recebida com entusiasmo em festivais e cerimônias de premiação. No Prêmio Goya de 2016, o filme recebeu 12 indicações e conquistou duas estatuetas: Melhor Fotografia, graças ao trabalho de Miguel Ángel Amoedo, e Melhor Atriz Coadjuvante, para Luisa Gavasa. Essas conquistas se somaram aos Prêmios Feroz, onde arrebatou prêmios em categorias como Melhor Filme Dramático, Direção e Melhor Atuação, consolidando Paula Ortiz como uma das vozes mais influentes do cinema espanhol.
Com apenas 93 minutos de duração, o filme se destaca como um daqueles que ficarão gravados na memória por sua capacidade de combinar tradição e modernidade. A música, o simbolismo dos objetos — como os punhais de cristal dados à Noiva — e a intensidade de cada cena criam uma experiência sensorial e emocional que transcende a simples narrativa.
Agora, com sua chegada ao Prime Video, o filme se abre para um público ainda maior, especialmente para aqueles que não tiveram a chance de assisti-lo durante seu lançamento nos cinemas. É uma oportunidade única de descobrir — ou redescobrir — uma obra que transformou a poesia de Lorca no cinema contemporâneo e continua a empolgar uma década depois.
El Confidencial